Como é o esgotamento da geração millennial para 16 pessoas diferentes

“Eu nasci física e emocionalmente esgotada."

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Quando comecei a escrever sobre esgotamento [burnout] como a condição da geração millennial, estava tentando encontrar um vocabulário para descrever o que havia se tornado a minha vida — e as vidas de tantas outras pessoas que eu conhecia.

Por que eu não conseguia concluir tarefas aparentemente simples? Porque eu estava esgotada. Por que eu estava esgotada? Porque estava trabalhando o tempo todo. Por que eu estava trabalhando o tempo todo? Porque, desde jovem, todos me diziam que deveria ser assim.

Eu acredito que o esgotamento é uma experiência geracional compartilhada e que nos define, mas isso não significa que ele funcione ou seja sentido da mesma maneira por toda a geração do milênio (ou millennials) — ou que é limitado às pessoas da nossa idade.

Minha própria experiência (como uma mulher branca, de classe média-alta e com educação universitária) forneceu a espinha dorsal desse estudo em particular, mas isso foi apenas o começo de uma conversa — não o fim.

Desde que publiquei meu post, muitas pessoas começaram a compartilhar suas próprias, diferentes e igualmente importantes experiências. Aqui, quis reunir algumas dessas perspectivas (levemente editadas por questões de espaço e clareza). — Anne Helen Petersen

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Cresci em um lar religioso e conservador na Pensilvânia rural (EUA), parte de um grupo dissidente da direita radical. Eu digo às pessoas que fui escolarizada em casa. Na verdade, eu nem fui escolarizada — eu aprendi sozinha e ensinei meus irmãos mais novos com livros da biblioteca. Não podíamos usar calças, cortar o cabelo ou ouvir música pop. Além disso, mulheres eram consideradas estúpidas, pessoas gays eram consideradas doentes e o Juízo Final era considerado iminente.

Mas eu queria uma vida melhor. Cheguei à faculdade, obtive um PhD em psicologia, me tornei uma cientista pedagógica e estudei realização, motivação e estatística. Hoje moro na Califórnia.

Por causa de tudo isso, o esgotamento e a ansiedade em torno da produção e realização tem seus lados positivo e negativo para mim. Às vezes, acho que isso é cíclico; como qualquer pessoa que passou por muita dificuldade e cresceu pobre neste país, é normal, para mim, pensar que não posso pagar por uma casa. Crescer em um lar negligente e pobre quase totalmente isolado do mundo significava que, como adolescente, eu não cresci com a ambição ou a imagem mental de um "trabalho perfeito". Enquanto estava acordada, quase sempre estava trabalhando e, em seguida, fazendo coisas como tentar aprender a partir de livros na biblioteca. Essa questão de trabalhar o tempo todo não é uma surpresa para mim.

Mas então o esgotamento desapareceu. Quando finalmente saí e entrei no mundo mais amplo, me apaixonei por tudo. Eu ainda sinto esse amor e a energia ilimitada que você recebe por ter tido uma oportunidade. Eu já tive que lidar com tanta imprevisibilidade que agora não me importa a sensação de decepção que o mundo tenta me passar. Meu mundo ainda é muito melhor do que era. Essa é uma segurança que nunca senti quando criança, e isso ainda me protege do esgotamento.

Apesar da turbulência da macroeconomia, a melhoria social e a segurança que temos visto nesta geração é transformadora. Andar por aí como uma mulher lésbica e de forma segura com minha parceira é algo que nunca pensei que aconteceria. Lidar com as pressões de um ambiente de trabalho nunca foi tão difícil quanto lidar com uma comunidade que era ativamente abusiva.

Outra diferença pode ser a seguinte: de uma forma bizarra, sinto que estava mais preparada para a pós-graduação e depois para a agitação dessa economia do que a maioria dos meus colegas — sempre trabalhei sozinha, sem muita ideia do que o futuro me reservaria. Eu já tive que desaprender e desfazer as crenças de toda uma comunidade sobre mim, então não me intimidei com a mercantilização do trabalho e do tempo. Tentar entender os mecanismos de tudo isso, como cientista, tem sido gratificante, principalmente quando consigo ajudar os alunos de origem mais complexa a entrarem na faculdade.

— Cat, 31

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Como mulher negra, sinto como se tivesse nascido esgotada. Todas as mulheres da minha família sempre trabalharam desde a adolescência até o dia em que morreram. Isso é uma coisa que acho que sempre passa batido nas conversas sobre mulheres no local de trabalho. Para as mulheres brancas de classe média, trabalhar ainda parece uma novidade. Eu sou professora de escola primária. Minha mãe era assistente social. Minha avó era professora, e sua mãe era escrava. Eu nasci física e emocionalmente esgotada.

— Elly

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Minha experiência é... estranha (ou talvez não tão estranha assim, mas parece incomum porque as pessoas não falam sobre isso). Fui criada por um acadêmico desempregado, alcoólatra e fracassado (meu pai) e uma mãe que ficava em casa e que se formou como bibliotecária.

A carga cognitiva sobre a qual quero contar é a do trabalho necessário para fingir ser de classe média quando você não é. Esconder a pobreza é como esconder o abuso doméstico — é a razão pela qual você não pode ter amigos na sua casa, é a razão pela qual você não pode ir a festas de aniversário e festas do pijama de outras crianças, é a razão pela qual você não pode ir a viagens da sua turma da escola, acampamento de verão ou férias.

É por isso também que você não pode fazer a tarefa da escola quando a tarefa se baseia na experiência da classe média de alguma forma: claro, eu poderia “alugar um filme” para entender a vida das crianças de classe média (por exemplo, pegar um na biblioteca), mas minha família não tinha videocassete, então como eu ia assistir ao filme e escrever uma redação sobre ele? Na escola primária e no ensino médio, eu me inferiorizei, então não precisei explicar por que não me encaixava em tudo que outras crianças (aparentemente sem esforço) usavam, faziam e até mesmo conheciam. Coisas às quais eu não tinha acesso. Eu não podia fingir, então apenas me calava. Se esconder, esconder sua família e sua vida real consome muita energia.

Não me entenda mal: eu tinha acesso total à biblioteca e à minha educação formal, e a uma grande quantidade de formação informal em pensamento crítico e dissidente em casa. Eu estava preparada para o sucesso acadêmico, mas somente enquanto isso não custasse dinheiro — dinheiro que não tínhamos.

Ficou mais difícil no mundo do trabalho. As pessoas não te contratam a menos que você atenda a parâmetros visuais e comportamentais, o que inclui rosto de classe média (meu Deus, maquiagem e cuidados com a pele são caros), dentes de classe média e, mais importante, não causar problemas falando sobre coisas que tornam óbvio que você não se encaixa. Não se encaixar é arriscado. No trabalho, eu uso um rosto falso. Não sorrio mostrando os dentes e não falo sobre empréstimos estudantis.

Esconder sua pobreza e fingir ser de classe média é algo que a cultura americana exige de nós como um comportamento básico, como uma condição de sobrevivência, sobretudo de avanço. Isso é o que nós, pobres, fazemos para nos darmos bem, para impedir que pessoas de classe média se sintam desconfortáveis ou culpadas. Dedicamos muita energia e muita carga cognitiva para apagar as condições reais em que nós vivemos.

— Clare, 44

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Ainda que acredite que a identidade está em constante evolução e negociação, eu geralmente me identifico como uma jovem imigrante chinesa, como lésbica e como da geração do milênio (eu tenho 28 anos).

Não conseguir realizar tarefas básicas também acontece comigo e, mais do que isso, afeta meus deveres como filha. Minha mãe deixou sua família, seu trabalho e seus amigos na China para me criar como mãe solteira divorciada nos EUA. Então, a culpa de não conseguir fazer todas minhas tarefas é multiplicada por mil quando não consigo ajudar minha mãe com o básico (por exemplo, serviço de banco, procurar coisas em sites, editar seu currículo e sua carta de apresentação quando ela se candidata a empregos).

Meus pais nasceram em meados dos anos 60 na China comunista. Eles nasceram logo após a Grande Fome (1959-1961) e cresceram durante a Revolução Cultural (1966-1976) — dois períodos muito difíceis para a China e seus bilhões de cidadãos. Eles não tinham os recursos que muitos dos pais dos meus amigos brancos tiveram ao crescer. Tenho muitos amigos que são imigrantes ou filhos de imigrantes de países como Paquistão, Índia, Coreia e Vietnã, cujos pais também tiveram vidas muito diferentes de seus colegas brancos no Canadá e nos EUA.

Saúde mental não era algo sobre o qual falávamos na minha casa. Depressão e ansiedade eram palavras que nunca tinha ouvido falar até meu primeiro ano de faculdade. Em vez disso, eu ouvia os termos 吃苦 “amargor da comida” e 性情 “sentimento do coração”, sintomas comuns entre os recém-chegados ao Canadá que lutavam para encontrar trabalho estável em uma sociedade que coloca os brancos acima de todos os outros. Aceitar o fato de que eu também possa estar esgotada, deprimida e ansiosa, embora ainda seja chinesa, tem sido um processo difícil.

— Daiyu, 28

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Fui criado na igreja Adventista do Sétimo Dia desde que nasci. Eu saí da igreja quando tinha entre 19 e 22 anos. Faço terapia há cinco anos para lidar com o trauma e o esgotamento que a religião me causou. Na igreja, aprendi que o sofrimento é bom. A aptidão para sofrer — seja por meio de uma situação difícil, de um parceiro abusivo ou de um emprego que te explora — era boa. Jesus sofreu por nós, e ser capaz de sofrer como Jesus era ideal.

A Terra é apenas o teste, o céu é a recompensa. Então, se você está infeliz, exausto e na pobreza na Terra, isso é apenas um teste. Ser capaz de aguentar o esgotamento, a depressão ou a exaustão é o que se espera de você. Não tem descanso. Sua alma vale mais do que o seu sono. A salvação é um trabalho em tempo integral, sem férias.

Os exemplos são infinitos. Passe suas férias no México, mas enquanto estiver lá, construa uma igreja por 18 horas por dia. Trabalhe por US$ 200/semana durante todo o verão em um acampamento, mas não durma e fique pregando para crianças o dia todo. Trabalhe 60 horas de graça por semana para fortalecer uma igreja.

Vi como o esgotamento está integrado à religião, mas como um recurso, não uma falha.

— Daniel, 30

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A geração millennial pode achar que o esgotamento é sua particularidade, mas acredito que o fenômeno é mais abrangente. Tenho 74 anos, nasci na zona rural do Meio-Oeste dos EUA, fiz faculdade e fui criada para acreditar que poderia fazer tudo e que era fraqueza procurar ou esperar por ajuda. Fui diagnosticada nos últimos cinco anos com fibromialgia e síndrome da fadiga crônica. Não estou sozinha. Muitas das minhas amigas da mesma faixa etária parecem estar na mesma situação. Acho que estamos todas esgotadas.

Como grupo, todas trabalhamos desde o momento em que entramos na faculdade até a aposentadoria, ganhando cerca de US$ 0,70 para cada dólar que nossos colegas homens recebiam. Nos casamos, nos divorciamos e achamos que conseguiríamos viver sem pensão alimentícia ou outra assistência financeira de nossos ex-cônjuges. Escolhemos profissões que nos davam liberdade, mas não benefícios trabalhistas, então não temos poupança. Lutamos para manter nossas habilidades a par da tecnologia, perdemos muitas vagas no desastre das "ponto com", não conseguimos mais encontrar trabalho em nossos campos e hoje estamos cuidando de pais idosos e vendo irmãos e amigos doentes. Podemos ser velhas, mas também somos bombardeadas diariamente com notícias deprimentes sobre os EUA e o mundo.

Como um endocrinologista comentou depois de me perguntar gentilmente como estava minha vida: "Não é de admirar que você tenha fadiga crônica!" Me sinto quase aliviada ao ver que minha situação pode não ser o resultado do envelhecimento, mas do esgotamento compartilhado com os mais jovens.

— Teddee, 74

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Acho esse tipo específico de esgotamento um marcador de classe na Índia. "Siga seus sonhos" e "você só tem que trabalhar duro para conseguir o que quer" é definitivamente um pensamento de classe média. Se você é rico o suficiente para poder pagar por uma boa educação, precisa provar que fez bom uso disso; que o investimento da sua família valeu a pena. E isso não é fácil.

Na década de 1990, quando a Índia iniciou o processo de liberalização, a geração dos nossos pais era bombardeada por oportunidades. Havia dinheiro para ser ganho — dinheiro que eles ganhavam para seus filhos, para que eles pudessem ser o que quisessem e, de certa forma, realizar os sonhos de seus pais. No entanto, houve o efeito da desaceleração econômica na Índia como resultado da globalização. Os mercados já estão saturados, mas temos uma das maiores e mais jovens populações do mundo. Simplesmente não há o suficiente para todos.

De certa forma, isso não é muito diferente do que está acontecendo nos EUA: a criação intensiva dos filhos (porque há muita competição e todo mundo quer que seu filho seja o melhor), o efeito das redes sociais, o desejo de ter um trabalho que seja bem pago, mas também legal. Sempre que falo com alguém da geração mais velha, tentando obter conselhos sobre como conseguir o emprego desejado, isso não ajuda. Hoje tudo foi sistematizado e digitalizado. Você envia e-mails e as pessoas raramente entram em contato com você. Você espera por vagas de emprego, mas geralmente em vão. Você tem que ter uma indicação. Ninguém mais tem tempo e todo mundo está sempre correndo.

— Sanya

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Como imigrante, vivo esgotada e com a constante sensação de nunca ser o bastante para este país. A toda hora, você tem que provar – para você mesma e os outros – que é uma pessoa digna para estar aqui e ocupar espaço. Acho que é por isso que nunca parei de trabalhar. Sinto que não posso relaxar ou não estar trabalhando.

Deus me livre me tornar uma imigrante desempregada. Isso simplesmente não é opção. E não importa o quanto eu me saia bem na vida, enquanto eu estiver aqui nos EUA, sempre haverá uma pessoa que me lembrará da minha alteridade: "Ah, você mal tem sotaque", "Ah, seu inglês é muito bom","Você deve estar orgulhosa do que conseguiu".

Sinto o esgotamento de tentar me encaixar em uma sociedade que me lembra o tempo todo que não sou daqui.

— Gabriela, 28

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Sou afro-americana e advogada. Fui criada por uma mãe solteira e sou a primeira pessoa da minha família a ter ido à faculdade ou cursado direito. Tenho 33 anos e sinto um forte sentimento de esgotamento há dois anos. Acho que isso vem de duas fontes.

A primeira é porque, crescendo pobre, internalizei a ideia de que precisava ser uma grande vencedora para escapar de onde vim (por exemplo, crescer na zona rural da Carolina do Norte, EUA). E percebi como adulta que jamais poderei "dar um tempo" disso tudo. Tenho dívidas de empréstimos estudantis da faculdade de direito e minha mãe não é capaz de fornecer segurança financeira (na verdade, eu mando dinheiro para ela). Sinto que a única maneira de manter meu tênue controle sobre minha existência de classe média em Nova York é continuar trabalhando.

A segunda é que só percebi recentemente o pouco que posso fazer para superar a pobreza geracional. Ter o suficiente para economizar para minha própria aposentadoria (quanto mais para uma casa) parece impossível.

— Erika, 33

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O esgotamento para mim, como uma pessoa cronicamente doente e autista, acontece em relação à minha saúde. Eu não sou capaz de trabalhar; meu “trabalho” é o trabalho da saúde. Eu passo horas por dia descansando, cuidando do meu corpo e da minha mente e tentando permanecer viva. Nunca é suficiente. Estou sempre com dor, sempre cansada, sempre com menos energia do que preciso para passar pelas tarefas do dia.

O esgotamento autista, especificamente, acontece quando passo muito tempo ignorando minhas necessidades e fingindo ser neurotípica. Com o esgotamento autista, perco o contato comigo mesma. No passado, perdi a capacidade de ler livros, perdi as palavras. É por isso que tenho que me esforçar tanto para me equilibrar, para que isso não aconteça novamente.

Liz

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Como um homem asiático gay (cujos pais são imigrantes), a maior parte da minha luta e esgotamento vêm de tentar entender o meu lugar em uma sociedade que em grande parte não quer me ouvir/ver.

Sinto que a qualquer momento a política/racismo/homofobia podem ameaçar minha posição social e ficarei desamparado.

— Derek, 24

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Tenho 17 anos e sou estudante do ensino médio, o que tecnicamente me faz parte da geração Z.

No ano passado, fiz duas aulas de nível avançado e passei com distinção. Neste ano, mal consigo fazer a lição de casa. Me pergunto como passei de uma estudante nota dez para uma veterana sobrecarregada.

Descobri sobre o esgotamento no Tumblr quando, ironicamente, estava mexendo na internet em vez de estudar. O post descrevia todos os problemas que eu estava tendo — a fadiga mental constante, a procrastinação crônica, a ansiedade de querer boas notas e não ser capaz de fazer nada sobre isso. No entanto, todas as soluções sugeridas pareciam estar relacionadas com o autocuidado: fazer uma pausa, dar uma volta, fazer um lanche, melhorar meu gerenciamento de tempo. Só que isso só ocupará mais meu tempo e me deixará mais ansiosa sobre desperdiçar o tempo que eu poderia estar usando para estudar.

Eu não conheço nenhuma pessoa que não esteja perigosamente estressada na minha escola. Todo mundo procrastina, ninguém se compromete com grupos pós-escolares ou sociedade honorífica porque está ocupado demais com tudo o que acontece em suas vidas. Nenhum dos nossos pais parece entender; eles simplesmente acham que temos tudo na mão e que somos preguiçosos ou estamos distraídos por causa do celular. Na escola, os conselheiros estudantis estão sempre sobrecarregados de alunos com ataques de pânico ou colapsos mentais no meio do dia. Para a maioria de nós, esse é o novo normal.

— Jillian, 17

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Sou latina e cresci com um pai pastor. Sempre foi exaustivo dar conta de tudo. Eu participava de eventos para jovens adultos nos fins de semana e uma ou duas sextas-feiras por mês ajudava em um abrigo, sem mencionar a igreja aos domingos. Acrescente a isso a pressão de ser a primeira da minha família a ir para a faculdade.

Muitas vezes, meu pastor fazia sermões sobre como “você não pode ser um cristão preguiçoso!” e como “a igreja foi feita para ser uma comunidade!”, com o subtexto de “você deve se doar para os outros”, o que muitas vezes significa que você deve devotar todo seu eu emocional aos outros.

Na prática, isso significa serviços orando por pessoas que estão doentes, de luto etc. Você tem que ligar, enviar e-mail, enviar comida, ajudar. Mas às vezes não tenho energia para isso. Uma das minhas amigas de longa data da igreja se casou no ano passado, e eu tenho a intenção de enviar um presente para ela, mas ainda não consegui. Não nos falarmos muito mais, mas ela ainda é da "minha comunidade".

Eu me afastei um pouco da religião ao avaliar os motivos para minha fé e minhas prioridades. Lidar com o estresse da escola e viver dentro da minha família porto-riquenha (que muitas vezes tem ideias de sucesso muito diferentes para as mulheres do que eu e minhas colegas) é mais do que suficiente.

— Cristina Maria, 22

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Estou na extremidade mais leve do espectro. Tenho que trabalhar muito para conseguir o que meus amigos saudáveis tiram de letra. Nem consigo imaginar como é para pessoas com deficiências mais graves.

Ir no médico é muito diferente quando você está doente. Eu tenho uma comitiva inteira de médicos. Eu tenho que fazer todas as consultas, me certificar de que os médicos estejam coordenados uns com os outros, me certificar de que eles estejam constantemente se comunicando, de que eles saibam quais medicamentos eu tomo e o que eles estão me prescrevendo. Às vezes, tenho de três a cinco consultas por semana.

Meu feed do Twitter está cheio de GoFundMes [vaquinhas on-line] pedindo ajuda para que eu possa comprar medicamentos essenciais ou pagar minhas dívidas dos hospitais. Como estou doente, não consigo trabalhar muito. Então, não tenho dinheiro.

Eu tento fazer todo o trabalho que a geração do milênio normal faz. Eu também sou escritora, então tento publicar histórias, reportagens, fazer algum trabalho de edição gratuita para revistas, pagar contas e trabalhar em dois ou três empregos ao mesmo tempo. Mas é muito mais difícil para eu me sustentar do que pessoas mais saudáveis. Também é muito mais difícil encontrar um emprego que pague bem o suficiente para eu tentar pagar minha dívida.

Imagine ter a ideia de que você tem que trabalhar o tempo todo, e seu corpo luta contra você o tempo todo. Quanto mais você tenta, mais dor você passa. Essa é a minha vida, e é um ciclo infernal.

— Erynn, 25

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Como muçulmana, não branca e da geração do milênio, lido – vivendo nos EUA – com estereótipos, xenofobia e discriminação em um mundo pós 11 de Setembro. Além disso, muitos de nós somos filhos de imigrantes que vieram para este país com a expectativa de que seus filhos se destacassem profissional e academicamente, enquanto seguem as tradições culturais de um país que os difama. Isso aumenta ainda mais a pressão que sentimos.

— Rawan, 25

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Acho que existe um tipo único de esgotamento ao ser uma mulher em uma profissão estereotipada de "cuidado". Sou pesquisadora de psicologia clínica, então estou bem no centro do meio acadêmico e da prática de saúde mental, mas estar associada ao campo de "cuidado" (particularmente quando estou no meu papel de terapeuta) pode ser desgastante. As pessoas assumem que o trabalho que você faz não vale o dinheiro que estão pagando (porque as mulheres devem fazer esse trabalho naturalmente) e que qualquer um pode fazer o seu trabalho (terapia é apenas dar conselhos, certo?).

As pessoas pedem que você trabalhe de graça (conheci várias pessoas que me contaram uma experiência traumática delas durante nossa primeira conversa) e é complicado tirar folgas, porque seu trabalho exige horários flexíveis.

Acrescente-se o fato de eu ser nipo-americana, com todos os estereótipos relacionados a mulheres submissas, e o esgotamento só aumenta. Dentro do meu mundo profissional, terapeutas ou pesquisadores não brancos ainda são raros. Uma vez, um psiquiatra me disse que eu deveria ser a terapeuta a atender um cliente que era homem, homossexual e negro simplesmente porque eu era a única terapeuta não branca na equipe (sem médicos LGBT) e que provavelmente "teríamos muito em comum".

— Jasmine, 31

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Veja também:

Como os millennials se tornaram a geração do esgotamento

Escrito por Anne Helen Petersen • há 5 anos

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A tradução deste post (original em inglês) foi editada por Luísa Pessoa.

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