Blackout Tuesday: 1 ano depois

A ação que tomou conta das redes sociais há um ano fez alguma diferença na prática?

Você se lembra do que aconteceu há um ano? Se lembra da sua timeline do Instagram e Facebook lotada de imagens totalmente pretas?

A Blackout Tuesday foi uma ação coletiva popularizada pela indústria da música dos EUA e que se espalhou para celebridades e público ao redor do mundo. Foi programada para uma terça-feira, dia 2 junho de 2020. Participaram dela nomes como Rihanna, Elton John, Ludmilla, Bruno Gagliasso e muitos outros artistas, além de empresas como Spotify, MTV e Apple Music, com mudanças em sua programação e aplicativos.

Isso aconteceu como resposta aos assassinatos de George Floyd, Breonna Taylor e Ahmaud Arbery, e foi um importante momento em 2020: é necessário que celebridades, empresas e o público se posicionem contra a desigualdade e a violência que atinge os negros no mundo inteiro.

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Mas será que apenas uma ação, realizada em apenas um dia, pode ter qualquer tipo de efeito sobre essa situação?

No Instagram e no Facebook o burburinho foi enorme. Mas, na prática, as timelines ficaram pretas e não foi muito além disso. Muitos artistas da música, das artes cênicas e até influencers surfaram nessa onda. Pessoas que nunca se posicionaram contra as desigualdades, viram ali a oportunidade de engajar e de ganhar o status de antirracistas com a simples ação de postar uma imagem inteiramente preta. O uso massivo das hashtags #BlackLivesMatter e #BLM acompanhando as imagens só atrapalharam a busca por informações realmente relevantes sobre o assunto.

Reprodução - Instagram

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A iniciativa que deu origem ao Blackout Tuesday começou com a tag #TheShowMustBePaused, e foi criada por Brianna Agyemang e Jamila Thomas, duas mulheres negras, cabeças na área de marketing da lendária gravadora Atlantic Records. A intenção foi a de uma mudança geral.

Para elas, empresas que estão lucrando milhões com as criações de artistas negros devem agir contra a violência que atinge as comunidades negras, assim como tomar atitudes em relação ao seu próprio funcionamento interno. Atitudes que valorizem os profissionais negros e, no caso da indústria da música, dar abertura e atenção para músicos negros que não se esquadram dentro do Rap e R&B. No entanto, a massificação da ideia distorceu e esvaziou os valores originais da iniciativa.

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 Brianna Agyemang e Jamila Thomas

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É importante que artistas e empresas se posicionem, se indignem com as injustiças e promovam ações com o intuito de conscientização. Porém, a luta contra o racismo e a desigualdade social não é uma corrida de 100 metros rasos, que dura poucos segundos. Essa luta é uma maratona que dura muitos quilômetros e exige constância, é onde se põe à prova sua resistência e capacidade de lidar com as dificuldades.

Ações simbólicas, criadas para gerar impacto, precisam necessariamente estar ligadas às ações práticas e efetivas.

Para as empresas, isso significa contratar pessoas negras em todos os seus setores, com remuneração justa e igualitária, promovê-las a cargos de liderança e oferecer um ambiente saudável e seguro para elas.

Para as celebridades, significa que preciso protestar contra o racismo para além dos casos de grande repercussão nacional e internacional. É preciso questionar seu ambiente de trabalho, se posicionar em relação ao seu próprio mercado. Mover peças e trabalhar para que pessoas negras ocupem novas posições e tenham justo reconhecimento.

Para o público, isso significa o apoio, o reconhecimento e a valorização do trabalho das negras e negros em todos os setores sociais. Não dá pra ficar só no discurso. O antirracismo é uma prática diária, que não descansa nem nos feriados. Portanto, não pode funcionar em apenas alguns dias do ano.

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"Pare o show. Use sua voz. Black Out Tuesday, 2 de junho de 2020."

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