Assim viviam os punks de Los Angeles nos anos 80

"A música era uma maneira de conhecer alguém e saber se você se daria bem com ela."

John Brian King

A Los Angeles do início dos anos 80, assim como as bandas punk da cidade, tinha a reputação de ser barulhenta, acelerada e desordeira. Em 1984, a cidade produziu alguns dos discos punks mais icônicos e influentes de todos os tempos — músicas como "Kids of the Black Hole", do The Adolescents (1981), "TV Party", do Black Flag (1982) e "Suburban Home", do Descendents (1982), captaram a desilusão e a angústia sentida por muitos dos que chegaram à idade adulta durante a era Reagan nos EUA.

Em meio a tudo isso estava John Brian King, estudante de arte do California Institute of the Arts, que antes de uma carreira de sucesso no cinema, voltou suas lentes para essa cena musical. Aqui, King compartilha fotos de sua coleção pessoal e suas experiências de crescimento na selva de pedra de Los Angeles.

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John Brian King

Como estudante de fotografia na Cal Arts, eu passava as noites gravando projetos escolares em filmes de 35 mm e depois ia para os shows punk em Los Angeles para encontrar meus amigos. Naquela época, havia diferentes vertentes no mundo punk de Los Angeles: South Bay tinha os punks hardcore e agressivos; já os caras de Orange County e Huntington Beach eram os que batiam nas pessoas na pista de dança; e tinha também os surfistas idiotas.

Tinha uns imbecis pró-orgulho branco em Orange County, já os punks de Hollywood eram esquerdistas e não toleravam nenhum tipo de racismo. Eu não era o tipo de punk que injetava heroína, mas também não era um New Waver — pessoas que tingiam o cabelo de amarelo e rosa depois de ver um filme de arte. Eu estava mais ou menos no meio: um "punk da arte".

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O Minutemen era uma banda muito importante para mim na época. Algumas outras eram X, Fear e The Germs. Naquela época, íamos muito ao Whiskey a Go Go, mas também havia um lugar chamado Cathay de Grande, no centro de Hollywood, onde nos reuníamos às vezes.

Um dos meus outros lugares favoritos era um lugar em West Hollywood chamado Starwood, que era meio sombrio — supostamente pertencia aos caras por trás dos assassinatos de Wonderland e também foi o lugar onde o The Germs fez sua última apresentação antes da overdose de Darby Crash.

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Uma noite, meus dois colegas de quarto e eu decidimos fazer uma festa em casa e convidamos uns punks que havíamos conhecido em shows. De alguma forma, o The Germs descobriu, e a baixista, Lorna Doom, e o guitarrista, Pat Smear, apareceram na festa.

Infelizmente, alguém contou para uns surfistas de Redondo Beach, que apareceram e começaram a hostilizar todos os punks. Pat apenas olhou para um dos surfistas, pegou minha espingarda e bateu no rosto dele, arrebentando seu nariz. Havia sangue por toda parte! Eu e meu amigo levamos Pat até seu carro e dissemos: "Dê o fora daqui, cara!"

Quando os policiais chegaram, ninguém entregou Pat. Mas ouvi dizer que ele acabou cumprindo um fim de semana na cadeia pelo incidente.

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Quando você encontrava sua comunidade, ela se tornava sua tribo. Havia certos lugares onde você ia e sabia que encontraria pessoas que pensavam como você.

Isso foi muito antes das redes sociais e das trocas de mensagens, então você conhecia novos amigos nesses locais — lugares como o bazar da Capitol Records, onde era possível comprar álbuns e cartazes piratas nas noites de sábado, ou o Oki Dog, o lugar com os piores cachorros-quentes do mundo. A música com certeza era uma maneira de descobrir se uma pessoa era alguém com quem você gostaria de conviver.

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Ronald Reagan também foi um grande catalisador para essa cultura. Ele foi eleito bem quando comecei a escola de arte, e lembro que todos estavam chorando e gritando nos corredores: “Esta é a morte da cultura!” Dizendo: “A América acabou! Acabou!"

Todo mundo que eu conhecia odiava Ronald Reagan, e muitas vezes a música atacava sua política. Uma banda como o Minutemen tinha letras praticamente socialistas/comunistas sobre o envolvimento dos EUA na América Central — é difícil encontrar algo equivalente a isso hoje. Músicas desse tipo com certeza motivaram muitos de nós e nos alinharam com as políticas esquerdistas, quase anarquistas em alguns pontos.

Pensando bem, acho que o maior legado dessa época, quer dizer, além da música — você pode ouvir um álbum do The Germs hoje e ele é tão atual quanto quando foi lançado —, é a ideia de que você pode pegar algo pequeno e interessante, algo que não seja nada institucional, e transformar isso em uma comunidade vibrante. Algo significativo. Esse sentimento influenciou todos nós, e é essa mesma ética punk que ainda hoje está muito viva nos Estados Unidos.

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John Brian King

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Para conhecer mais o trabalho de John Brian King, ou comprar seu livro, "LAX: Photographs of Los Angeles 1980–84" [LAX: Fotografias de Los Angeles 1980–84, em tradução Livre], visite seu site em johnbrianking.com.


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Este post foi traduzido do inglês.

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