Agência de publicidade usa imagem de travestis em campanha contra “peças não originais”

Criadores do calendário foram acusados de transfobia nas redes sociais.

Nesta quarta-feira começou a circular no Facebook a peça publicitária "The Shemale Calendar" ("O calendário travesti", em uma tradução livre), que gerou uma onda de protesto por seu conteúdo transfóbico.

No descritivo da peça consta o conceito da campanha: “Se não é original, mais cedo ou mais tarde você sente a diferença”. Segundo a publicação no Facebook, o calendário Shemale foi distribuído em centenas de oficinas pelo Brasil.

Em entrevista ao BuzzFeed Brasil, o departamento de marketing da unidade brasileira da Meritor, empresa de peças automotivas, afirmou que não tem conhecimento da campanha e que nunca teve contato com a agência Leo Burnett Tailor Made, responsável pela peça. Afirmaram ainda que estão checando internamente o que pode ter acontecido.

Publicada na página do Facebook do 39º Anuário do Clube de Criação, a imagem já conta com cerca de 500 comentários e mais de 300 compartilhamentos até o horário desta publicação.

O BuzzFeed Brasil falou com o Clube de Criação, uma associação de pessoas interessadas em publicidade e criatividade, que afirmou que "não tem qualquer relação com a seleção das peças. O prêmio existe há 40 anos e agências e pessoas físicas inscrevem suas campanhas e um júri seleciona. Esse júri é soberano e o clube não faz nenhum juízo de valor na peça".

Neste ano, o júri contava com nomes como Guilherme Jahara, atual diretor de criação da F.Biz. Veja o júri completo aqui.

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"Foi criada uma peça direcionada aos mecânicos, reforçando a importância de usar peças originais Meritor", diz o descritivo da campanha. A crítica do público foi justamente a esta comparação entre travestis e a roubada de usar peças não-originais.

"Criamos um calendário especial, estrelado por mulheres lindas. Ao final do calendário, mostramos que aquelas mulheres, na verdade, eram homens travestidos, que são mesmo travestis na vida real", completa o descritivo, fortemente criticado:

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Para reforçar o conceito da campanha, o calendário traz o documento das modelos com fotos masculinas.

A peça foi criada pela agência Leo Burnett Tailor Made. Os diretores gerais de criação foram Marcelo Reis e Guilherme Jahara. Marcelo é sócio e copresidente da agência e Guilherme hoje atua na F.Biz e foi jurado do Anuário de Criação.

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O calendário consta no porrifólio da redatora Carla Cancellara. Já o diretor de arte Murilo Melo deletou a peça de seu portfólio.

Atualização 21/10/2015, 15h53. : As últimas duas imagens foram substituídas pelo print screen do portifolio do diretor de arte que deletou a peça após a publicação deste post.

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Atualização 21/10/2015, 17h32: Marcelo Reis explicou o que aconteceu e pediu desculpas. Leia o comunicação da Leo Burnett na íntegra:

Esse calendário foi criado há mais de 2 anos, de forma equivocada, mas sem o intuito de ofender ninguém. Já na primeira semana de distribuição solicitamos para as oficinas que não fosse fixado nas paredes. A peça foi inscrita no festival do Clube de Criação por uma falha nossa. Somos uma empresa que sempre respeitou e apoiou a diversidade. Eu, Marcelo Reis, peço desculpas. Lamentamos o constrangimento causado. Já solicitamos ao Clube de Criação que o trabalho seja retirado do Festival, por não estar alinhado com nosso modo de pensar e agir.

Atualização 21/10/2015, 18h41. A Meritor publicou em sua página no Facebook um comunicado afirmando que não aprovou a peça.

      

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Atualização 22/10/2015, 17h16. Ao contrário do citado, o publicitário Ricardo John, diretor de criação da JWT Brasil, não julgou a peça. Na verdade, além de Guilherme Jahara outros nove publicitários compunham o júri:

Beto Shibata, Eduardo Foresti, Felipe Massis, Gustavo de Lacerda, Kevin Zung, Kleyton Mourão, Leo Macias, Rafael Urenha, Fábio Saboya

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