A música negra inglesa

Ou como os filhos de imigrantes africanos e caribenhos dominaram a cultura e a indústria com sua arte.

No Brasil, o Rap tem sido atingido por um fenômeno fora da curva. De repente, alguns artistas desviaram sua visão dos EUA e miraram na Inglaterra. O resultado é um crescimento de rappers fazendo Grime e UK Drill, dois gêneros ingleses com uma linguagem bastante diferente do que é feito na América.

Foto de David Tonge | Dizzee Rascal e Wiley

O Grime emerge na cena londrina no início da década de 2000 como vertente da música eletrônica, unindo seu ritmo aos versos de MC’s.

Reprodução | O influente grupo de Grime, Ruff Sqwad.

O grupo Ruff Sqwad e artistas como Kano, Dizzee Rascal e Wiley são alguns dos pioneiros do gênero. Sendo a população negra da Inglaterra formada por imigrantes e filhos de imigrantes, seus sotaques sonoros sofrem das mais variadas influências.

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Jamaicanos e imigrantes de outros países do Caribe são maioria, mas ganenses, nigerianos e ugandenses também marcam grande presença na composição étnica do país. Skepta e Stormzy, fortes nomes do Grime atual, são filhos de imigrantes da Nigéria e de Gana, respectivamente.

Foto de David Corio | Festa em Londres, 1982.

O UK Drill, um pouco mais jovem, surge no início da década de 2010 e foi classificado como ramificação do Drill de Chicago.

Reprodução | 67, grupo de UK Drill.

No entanto, sua origem musical veio diretamente do Rap inglês e da tradição da produção negra de música eletrônica do país. Unindo a temática 'gangsta' com instrumentais onde o bumbo marca forte presença e o baixo caminha das regiões mais graves até as mais agudas, o UK Drill tem feito a cabeça de jovens americanos e brasileiros.

No Brasil, destacam-se Febem, Leall, Fleezus e Kyan, que vêm navegando entre o Grime e o UK Drill e conquistando muitos ouvintes. Nos EUA, Pop Smoke despontou como expoente do UK Drill antes de sua precoce morte em fevereiro, deixando o legado para compatriotas como Sheff G e CJ. Hoje, existe Drill sendo feito pelo mundo inteiro.

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Mas a invasão mundial da música negra britânica vem de muito antes. Quem já ouviu Incognito ou Jamiroquai conhece a sonoridade do Acid Jazz, estilo que emergiu em meados dos anos 1980, revivendo a antiga disco, soul e funk music. O gênero teve seu auge durante a década de 1990, invadindo o mainstream mundial.

Reprodução | Incognito, banda da cena Acid Jazz.

Sade, a banda liderada pela cantora Sade Adu, conquistou a Inglaterra e depois o mundo nos anos 1980 com seu R&B/Smooth Jazz elegantes.

Foto de Patrick Demarchelier | Sade Adu.

No início, a onda musical feita por Sade chegou até a ser classificada por revistas especializadas como “new bossa”, já que trazia uma base rítmica inspirada na música brasileira consagrada internacionalmente por Tom Jobim e João Gilberto.

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O Lovers Rock, gênero de Reggae nascido nos anos 1970 - embora menos conhecido que os anteriormente citados - também fez sucesso fora da Inglaterra.

Reprodução | Love Joys, força feminina no Lovers Rock.

Apelando para letras românticas, o gênero foi criado para ser dançado por casais, bem coladinhos. Estados do Brasil como Maranhão e Bahia, fortes consumidores do Reggae, tocam muito Lovers Rock em suas festas.

Até o Indie Rock entra no meio. O subgênero chamado Shoegaze (ou Dream Pop) foi originado por AR Kane, dupla de jovens negros que resolveram inovar com suas experimentações sonoras.

Reprodução | AR Kane, ícones do Dream Pop.

Do outro lado, o UK Garage, Dubstep e Jungle mantiveram sua relevância na música eletrônica. Há muito tempo a negritude inglesa faz parte do mainstream da indústria fonográfica. E isso ainda está longe de mudar!


Texto de Jun Alcantara

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