A influência do Instagram tem um problema de diversidade. Esta blogueira diz que é a hora de mudar.

"Vocês falam sobre diversidade e inclusão mas mal postam mulheres negras no seu feed."

Enquanto os protestos contra a brutalidade policial aconteciam em cidades de todo o mundo no último fim de semana, muitos influenciadores do Instagram se manifestaram. A plataforma está repleta de ativismo de influenciadores grandes e pequenos compartilhando seus pensamentos e pedindo mudanças.

No entanto, há uma voz que os influenciadores não brancos dizem estar ausente do discurso de maneira flagrante. O enorme aplicativo de monetização de influenciadores LikeToKnow. It e sua empresa-mãe, a rewardStyle, não se pronunciaram sobre os protestos em seus feeds do Instagram desde segunda-feira, e ao mesmo tempo continuam enviando e-mails incentivando blogueiras a postarem links de afiliados para ganhar comissão. O porta-voz da rewardStyle não respondeu de imediato ao pedido de comentário.

Agora, as influenciadoras estão se manifestando diretamente contra a empresa, afirmando que ela tem o dever de destacar vozes negras, tanto como uma plataforma influente no mundo dos blogs quanto como detentora de uma grande fonte de receita do setor. Elas também estão pedindo uma avaliação da indústria de influenciadoras como um todo, na esperança de usar este momento para lutar por melhorias há muito esperadas em relação a diversidade e inclusão.

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Uma das blogueiras mais francas tem sido Tiffany Moon, que publica no @TheNorthernBelleoftheSouth. Moon tem criticado o LikeToKnow. It e a rewardStyle diretamente em seu feed, nos Stories do Instagram e em comentários em uma publicação recente do LikeToKnow.It, e incentiva outras pessoas a fazerem o mesmo.

Moon, blogueira de moda de Raleigh, Carolina do Norte, contou ao BuzzFeed News que sentiu o dever de se pronunciar e usar sua plataforma de aproximadamente 15 mil seguidores para pedir mudanças. Para ela, a questão é um imperativo moral para uma mulher negra com muitos seguidores, mas ela também sente o dever de ser exemplo para sua filha de 9 anos. Moon disse que, enquanto conversava sobre o vídeo de Floyd com a filha, ela perguntou por que as pessoas que têm poder não estão se manifestando.

"Isso me atingiu... Eu sou uma dessas pessoas", disse Moon. "Sou sua mãe e não estou me manifestando... Vou começar a derrubar algumas barreiras. "

Moon começou a marcar influenciadoras e empresas maiores pedindo que elas se pronunciassem. Ela ficou chocada que o LikeToKnow. It continuou postando nesse fim de semana e manteve o silêncio sobre os protestos.

"É muito frustrante para mim, porque eu fiz campanha para o LikeToKnow. It durante dois anos. Eu digo às pessoas o tempo todo: você tem que entrar no LikeToKnow. It, monetizar... Para vocês simplesmente ficarem calados?", ela disse.

Outra influenciadora, que pediu para permanecer anônima, mostrou ao BuzzFeed News os e-mails que recebeu do LikeToKnow. It ao longo do fim de semana, incentivando-a a continuar postando links de afiliados em meio aos protestos. Ainda no fim de semana, o aplicativo também publicou várias fotos em seu feed, algumas com mulheres não brancas. A CEO da empresa, Amber Venz Box, publicou em seu feed, que tem cerca de 92 mil seguidores, que "apoia a comunidade negra".

Moon começou a comentar nas fotos recentes do LikeToKnow.It pedindo que eles se pronunciem. Muitas outras blogueiras também passaram a comentar, apelando para que a plataforma tome uma posição perante seus mais de 3,5 milhões de seguidores.

"O fato de vocês não dizerem nada sobre o que está acontecendo mas ainda enviar e-mails nos lembrando de atingir nossas cotas diz muito... #blacklivesmatter", uma pessoa escreveu.

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"Por favor use sua voz para falar alto e claro sobre as injustiças acontecendo em nosso país e continue a destacar mulheres negras em suas plataformas. #NósImportamos"

"Agora é a a hora de usar nossas plataformas para fazer o bem e não para vender produtos."

"SILENCIO é complacência! USE sua VOZ para o BEM!"

"Linda foto! Podemos contar com você para fazer um comentário sobre o que está acontecendo no mundo? Nós PRECISAMOS da sua voz!"

"Ao invés de nos mandar emails sobre coisas para vender talvez você possa mandar emails sobre como fazer diferença. Seu silêncio não passa despercebido."

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Outra blogueira que se juntou aos apelos para que a rewardStyle se pronuncie foi Jessica Serna, que publica no @MyCurlyAdventures. Serna, blogueira de viagens latina que mora em Dallas, disse que, embora o problema tenha vindo à tona agora, a rewardStyle e o LikeToKnow. It há muito têm um problema de diversidade.

Jessica Elizabeth,

"Eu vou falar mais sobre isso porque não acho que nós estamos fazendo algo suficiente. Conforme mencionei, o número desproporcional de mega influenciadores brancos vs minorias é uma questão. Nós podemos nos calar ou nós podemos mudar isso juntos. Eu lembro da revolta quando a conferência da RS mostrou falta de diversidade e um artigo apareceu apontando a questão. Uma pequena mudança começou alo, mas não é suficiente. Nós temos muito trabalho pela frente e isso incluiu contactar não só as pessoas mas também apontar as microagressões em nossa indústria."

"Nós estamos no processo de entender como influenciadores podem trabalhar por mudanças. Criar um grupo para apontar a responsabilidade de marcas. Se você for um/a blogger, você entraria? SIM/NÃO. Se você disser sim, eu vou te mandar uma DM com mais informações."

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"Eu sempre soube", ela disse. "Dava para ver no feed deles, e nas blogueiras de maior sucesso."

Moon concordou, afirmando que, embora eles tenham realizado eventos de diversidade com uma plataforma que destaca influenciadoras negras chamada "Influencing in Color", o feed deles é majoritariamente composto por mulheres brancas.

"Vocês falam sobre diversidade e inclusão e querem criar uma plataforma para mulheres negras, mas mal postam mulheres negras em seu feed", ela disse. A conta do "Influencing in Color" fez uma publicação a respeito dos protestos, escrevendo: "Se você já se perguntou por que plataformas como o Influencing in Color precisam existir, agora a razão deveria estar mais clara do que nunca para você." As influenciadoras por trás da conta não responderam ao pedido de comentário.

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A plataforma tem um grande impacto na indústria dos influenciadores. O LikeToKnow.It não só tem uma grande base de usuários, mas também movimenta mais de US$ 1 bilhão em vendas anuais, de acordo com a Forbes.

Como a plataforma tem uma influência muito grande em como uma blogueira é capaz de monetizar seu feed, foi criticada no passado por não fazer o suficiente para garantir a divulgação de diversos tipos de mulheres. Cathy Peshek, que publica no Poor Little It Girl, até escreveu em 2018 que havia parado de usar o aplicativo depois de sentir que ele estava sendo injusto ao impulsionar algumas mulheres e outras não.

"O feed deles estava repleto de mulheres que se encaixavam no mesmo molde", ela escreveu. "O mesmo rodízio de cerca de 10 blogueiras que são republicadas repetidamente."

Influenciadoras como Moon acham que agora é a hora de fazer mudanças no setor, e muitas outras concordam. Influenciadoras como Megan Jayne Crabbe, que tem 1,3 milhão de seguidores no @BodyPosiPanda, estão pedindo que outras da indústria "usem sua influência para fazer a diferença."

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Moon disse que ficou impressionada com a quantidade de influenciadoras com centenas de milhares e até milhões de seguidores que estão se pronunciando, mesmo que algumas tenham dito que é um pouco tarde demais.

"Eu realmente acho que algumas blogueiras estão sendo fenomenais", ela disse. "E elas estão firmes, dizendo que não vamos tolerar isso, que não está tudo bem e que isso é errado."

Ela incentivou blogueiras maiores a começarem a entrar em contato com as marcas e plataformas como o LikeToKnow. It para que elas tomem uma posição e transformem palavras em ações.

"Por que vocês não estão pressionando essas marcas com as quais fazem parceria o tempo todo?", ela questionou.

Serna concordou que as influenciadoras têm a chave para tornar a indústria mais diversa e promover mudanças reais.

"Como influenciadoras, nós temos um grande trabalho pela frente", ela disse. "Temos o poder de promover as marcas e ganhar dinheiro para elas. No entanto, isso vem com a responsabilidade de também abordar as incoerências da indústria, o que em grande parte inclui a falta de diversidade."

Moon sente-se encorajada pelas mudanças que ela e outras influenciadoras já conseguiram realizar. Ela encabeçou uma campanha para que a Pink Lily Boutique, uma marca promovida por muitas influenciadoras, fizesse uma declaração sobre os protestos. Depois de alguns dias, a marca divulgou um comunicado detalhado no Instagram, para seus quase 800 mil seguidores, sobre as mudanças que serão realizadas.

"Verificamos a falta de cor em nossa marca e tomaremos medidas", disse a empresa, acrescentando que doará uma quantia de dinheiro não especificada e criará uma camisa cuja receita será doada para uma organização de igualdade. Eles pediram ainda que seus seguidores ajudassem a escolher a organização.

Moon disse que também conversou com a CEO da marca, Tori Gerbig, sobre a falta de diversidade da empresa.

PinkLilyBoutique

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"Nós tivemos uma conversa muito boa, e eu sinto que as pessoas estão nos ouvindo", Moon revelou nos stories do seu Instagram, acrescentando que continuaria pedindo que o LikeToKnow. It e outras marcas se pronunciassem a respeito de como poderiam melhorar.

Serna disse que acha que a rewardStyle e o LikeToKnow. It precisam fazer mudanças reais para melhorar sua comunidade.

"Eu gostaria de ver a rewardStyle com grupos negros e de outras raças em posições de poder tomando decisões importantes", ela disse. "Em vez de fazer apenas o mínimo, eles deveriam contratar profissionais de inclusão e diversidade para retrabalhar seu sistema e, assim, realizar mudanças de verdade."

Ela acrescentou que está trabalhando com outras influenciadoras para que elas se unam, de modo que quem tem medo de se pronunciar possa se sentir confiante ao pedir mais diversidade. Ela disse que agora simplesmente não há "reação suficiente".

"Nós também podemos celebrar empresas pertencentes a minorias que talvez mereçam um incentivo extra", ela afirmou. "Nós já compartilhamos produtos que amamos; deveríamos fazer mais para nos focar em tornar os produtos que amamos mais diversos."


Este post foi traduzido do inglês.

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