A independência do Brasil é uma farsa

Conheça a verdadeira história do dia 7 de setembro e seus principais mitos.

Nós aprendemos nas escolas que durante o dia 7 de setembro de 1822 às margens do Rio Ipiranga, Dom Pedro I gritou bravamente “Independência ou morte”, e assim o povo brasileiro rompeu sua ligação com a Coroa Portuguesa.

Reprodução | A Independência do Brasil, de Pedro Américo.

Entretanto, a real história do Brasil não é bem assim, pois foi apenas em 2 de julho de 1823 que as tropas portuguesas deixaram nosso país após muita resistência e sangue.

Desde o fatídico Dom Pedro I ao Presidente Bolsonaro, o Brasil vive uma falsa independência até os dias atuais e poucas pessoas têm conhecimento sobre a história acerca da Independência do nosso país. O famoso quadro “Independência ou Morte” do pintor Pedro Américo, é atualmente uma das principais referências que temos em memória, mas segundo historiadores a pintura omite a verdade, e constrói uma história falsa para privilegiar (como sempre) os poderosos.

Encomendado por Pedro II em 1855,  o quadro retrata de forma mitológica o processo de Independência apresentando Dom Pedro I como uma figura heróica e salvadora da nação. Porém, essa cena foi bem diferente dessa representação, a começar pelos cavalos brancos e os impecáveis trajes militares. Pois registros  históricos evidenciam que para subir a serra, a comitiva do Imperador utilizou mulas e roupas empoeiradas ou sujas. 

Além disso, o  famoso grito de “Independência ou Morte” nunca ocorreu de fato. O discurso do Imperador na verdade foi diferente do que imaginamos e era bem maior do que essa imponente frase. Pesquisas identificaram inclusive, que o grito foi criado por Dom Pedro I em uma tentativa de fortalecer o nacionalismo e conquistar apoio político em cartas enviadas para as outras províncias brasileiras. 

Como muitas tropas locais e outras províncias do país ainda eram muito fiéis ao domínio dos portugueses, o imperador buscava criar alianças políticas para fortalecer seu poder e garantir a soberania.

Reprodução | O Primeiro Passo para a Independência do Brasil, de Antônio Parreiras.

Entretanto, após declarar a Independência do Brasil deu-se início a uma série de conflitos entre governadores que resistiam a esse processo de desligamento com Portugal contra os apoiadores do nosso imperador. 

Enquanto grande parte do Brasil já desfrutava da independência, as províncias localizadas na região do norte e nordeste do Brasil, como Maranhão, Bahia e Grão-Pará viviam em constantes lutas. Em Salvador mesmo, foi onde registraram as batalhas mais sangrentas em busca da independência. 

Como muitos grupos de Portugal se concentravam na Bahia, havia muita resistência às mudanças do estado, e a elite defendia a reafirmação dos laços coloniais. E durante 1822, boa parte da população se rebelou contra essas tropas portuguesas que eram comandadas por Madeira de Melo, e cercaram a capital Salvador junto às tropas enviadas pelo Imperador D. Pedro I. 

Na primeira onda de conflitos as tropas portuguesas venceram e dominaram o interior, controlando todo o Recôncavo Baiano, inclusive a ilha de Itaparica. Os brasileiros que eram a favor do Império recrutaram militares estrangeiros, franceses e ingleses formando então uma Junta Conciliatória e de Defesa com o objetivo de lutar contra o poder de Portugal na região. 

Assim se estabeleceram novas lutas com apoio de guerrilheiros baianos que buscavam sua independência. Dentre esses voluntários estava a Maria Quitéria de Jesus Medeiros, filha de um fazendeiro do interior, que teve uma atuação muito importante na luta pela liberdade do Brasil.  Outra personagem importante nesse período foi Joana Angélica, a primeira mártir do levante baiano que se destacou como um símbolo de resistência ao enfrentar um grupo de tropas portuguesas que invadiu o Convento da Lapa, localizado no centro de Salvador. 

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Ambas mulheres e tantas outras personagens foram invisibilizadas pela história da independência do Brasil. Como é o caso da Maria Felipa, uma lutadora negra, baiana, natural da Ilha de Itaparica e líder de um grupo de 40 mulheres que esteve à frente de muitas batalhas.

Reprodução | Maria Quitéria, Maria Felipa e Joana Angélica se destacaram no século XIX nas lutas para vencer as tropas portuguesas — Foto: Arte/G1

Segundo pesquisa de alguns historiadores, esse grupo foi o responsável pela queima de aproximadamente 42 embarcações portuguesas. 

Apesar de termos contado com a força de figuras femininas, lutadores negros e outros cidadãos baianos que não integravam ao Império como D. Pedro I, foi apenas com ajuda de uma esquadra militar, que as tropas de Portugal foram derrotadas em 2 de julho de 1823 e deixaram a Bahia dando fim ao longo processo de Independência do Brasil, ao qual não se resumiu no dia 7 de setembro de 1822. É importante ressaltar ainda que o rompimento da ligação do Brasil com Portugal só foi validado internacionalmente em 1825.

Contudo, percebemos que a história que certamente você deve conhecer através da frase “Independência ou Morte”, perpassa por muitos outros pontos e é um processo de transformação social que nos acompanha até os dias atuais. Como bem disse o jornalista Rennan Leta, não dá para falar em ser independente em um país que possui governantes alinhados a pensamentos coloniais, reacionários e retrógrados. 

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