6 lugares pra você conhecer melhor a história dos negros em São Paulo

Quando você acha que já sabe de tudo sobre a cidade, ela vai lá e te surpreende!

A memória é um território de luta ideológica. Quer um exemplo? Para algumas pessoas o que rolou em 1964 foi um golpe militar, para outras foi revolução.

A memória das cidades também podem ser alvo de disputa. Muitos fatos tidos como verdades absolutas para quem cresceu ou vive em São Paulo tem sido questionados e revistos – por exemplo, o Bixiga não é exatamente um bairro de italianos, e a Liberdade não ganhou esse nome com a chegada dos imigrantes japoneses.

Essas informações "escondidas" são parte da história e São Paulo e podem ser conhecidas em um passeio incrível que tem como proposta compartilhar datas, relatos e lugares da cultura negra. A Black Bird é uma agência de turismo que há dois anos promove a Caminhada São Paulo Negra, um rolê que leva grupos por diversos locais históricos da cidade para contar e mostrar essas histórias.

Momento daquele selfie para celebrar a descoberta de uma São Paulo plural, cheia de novas descobertas!

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Aqui estão cinco lugares pra você ter um gostinho do que há escondido em São Paulo.

1. Praça da Liberdade

Reprodudução

Apesar de ser conhecida como um região de imigração japonesa, a Liberdade possui uma forte ligação com a memória negra de São Paulo.

Antigamente conhecida com Largo da Forca, era lá que acabam os cortejos por onde passavam os escravos condenados à morte por enforcamento. O nome “Liberdade” tem relação com este passado macabro. A história às vezes se confunde com lenda, mas conta que um militar negro chamado Chaguinhas foi condenado à forca por liderar uma revolta em Santos. Mas a corda que deveria quebrar seu pescoço se rompeu três vezes durante a cerimônia, fazendo todos acreditarem que Chaguinhas tinha proteção sobrenatural e que o rompimento da corda era um sinal divino de sua inocência. Foi o clamor do povo pela sua liberdade que batizou o bairro, quase um século antes da chegada dos imigrantes japoneses. Você pode conhecer a história aqui.

Recentemente houve disputa pelo nome da área. Um decreto do Governador Márcio França adicionou a palavra “Japão” ao nome da estação de metrô que dá acesso ao bairro. Houve uma grande indignação por parte do movimento negro, que alegou apagamento da história do local, mas a decisão foi mantida.

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2. Sede do Jornal Clarim D’Alvorada

Picasa / Via almapreta.com

O número 1056 da Rua Rui Barbosa era a sede do Jornal Clarim D’Alvorada, um dos periódicos negros de maior sucesso do começo do século passado. Numa época em que os jornais eram a mídia mais consumida do país, a criação do Clarim foi super importante por conta de seu viés abertamente anti-racista. Encabeçado pelos ativistas Jayme de Aguiar e José Correia Leite, chegou a ter uma tiragem de dois mil exemplares por mês.

3. Igreja e Irmandade Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos

Sergio Brisola/Reprodução

A Igreja e Irmandade Nossa Senhora do Rosários dos Homens Pretos hoje está no Largo do Paissandu, no centro da cidade, mas nem sempre foi assim: a primeira igreja foi contruida por mãos negras nos arredores do Anhagabaú, ali perto.

A movimentação da igreja era marcada pelo sincretismo religioso e além das missas católicas lá também aconteciam Congadas. Essa igreja em especial era um espaço de movimentação e socialização negra e também guardava um cemitério de escravos.

No início do século XX, durante a grande reestruturação modernizadora que mudou a cara de São Paulo, a Igreja do Rosários dos Homens Pretos foi demolida e reconstruída no Largo do Paissandu, como consequência de um plano higienizante das autoridades e pressão de empresários da área, incomodados com os cultos de tambores e cantos dos negros no antigo endereço.

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4. Paróquia Nossa Senhora Achiropita

Reprodução / Via arquisp.org.br

Muitos conhecem a Paróquia Nossa Senhora Achiropita pela sua tradicional festa italiana com macarronada de rua que acontece todos os anos. Mas as relações desta igreja com a comunidade negra local atestam o que todo morador ou frequentador do bairro do Bixiga sabe: antes de ser uma área de imigrantes italianos, ali já era um bairro negro, que tem origens em um grande quilombo.

Além de promover missas e batismos que celebram tradições africanas dentro da igreja, ali também é a sede da Pastoral Afro da Igreja Achiropita, um núcleo que atua em atividades sócio-religiosas e educacionais com ênfase na negritude brasileira, como aulas de capoeira e de dança.

Ainda nesta igreja é celebrada todos os anos a tradicional Missa da Mãe Negra, que tem como objetivo homenagear a figura da mãe e mulher preta e é realizada anualmente desde 1988.

5. Estátua da Mãe Preta

Reprodução / Via al.sp.gov.br

Uma estátua feita de bronze que foi fruto de um concurso público de maquetes promovido em 1953 e ganho por Júlio Guerra, escultor brasileiro que também é autor do monumeto Borba Gato, localizado no bairro de Santo Amaro. Seu objetivo é a exaltação da figura da mulher preta que é mãe e que criou além dos seus filhos, os filhos dos senhores de engenho. Fica Largo do Paissandu ao lado da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, e se tornou lugar de recebimento de oferendas diversas, como bebidas, flores e comidas.

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6. Joaquim Pinto de Oliveira, o Tebas

Reprodução / Via minube.com.br

Aqui não falamos de um lugar ou monumento, mas de um arquiteto. Joaquim Pinto de Oliveira ficou mais conhecida como Tebas. Escravo de um mestre de obras, conta com inúmeros trabalhos no seu portfólio como a fachada da igreja Chagas do Seráfico Pai São Francisco, a fachada da igreja da Ordem Terceira do Carmo e restaurou a antiga catedral da Sé. Após ser alforriado, com 52 anos, seguiu trabalhando como arquiteto até seu falecimento, aos 90 anos.

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