6 artistas que você provavelmente nem imagina que foram alvo da ditadura militar

Além da presidente Dilma e de artistas como Chico Buarque, Caetano e Gilberto Gil, outros grandes nomes foram perseguidos pelo regime ditatorial que durou de 1964 a 1985.

Na terça-feira (19), a jornalista Miriam Leitão relatou em entrevista ao Observatório da Imprensa a tortura que sofreu durante sua prisão durante a ditadura militar, que envolveu, além de agressões físicas e mentais, o confinamento em uma sala escura com uma cobra por horas, tudo enquanto estava grávida de seu primeiro filho.

O tema que tem sido novamente debatido em função da elaboração do relatório da Comissão Nacional da Verdade traz à tona diversos nomes célebres que sentiram na pele a ditadura no Brasil.

1. Marília Pêra

Durante uma apresentação da peça "Roda Viva" de Chico Buarque de Holanda, no dia 19 de julho de 1968, um grupo de cerca de vinte homens invadiu o teatro Galpão, na Rua dos Ingleses, em São Paulo e agrediram todo o elenco, incluindo a protagonista Marília Pêra.

Segundo a Folha de São Paulo o agressores "subiram aos camarins onde as atrizes estavam mudando de roupa. Espancaram-nas, tirando-lhes a roupa, e praticaram atos brutais de sevicia, conforme afirmavam atores, testemunhas oculares da violência."

O grupo era do Comando de Caça aos Comunistas (CCC). Tanto na matéria da Folha de São Paulo quanto no site de Chico Buarque relatos apontam que a dona do teatro, a atriz Ruth Escobar tentou prestar queixas sem sucesso, e que policiais viram o ataque e nada fizeram.

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2. André Valli

Outro ator conhecido da peça "Roda Viva" que foi espancado foi André Valli. Falecido em 2008, ganhou fama ao interpretar o Visconde de Sabugosa na versão do "Sítio do Pica-pau Amarelo", de 1977. Uma nova agressão ao elenco da peça ocorreu em outubro, dessa vez por oficiais do exército em Porto Alegre, encerrando assim a montagem, que era dirigida por Zé Celso, nome recorrente ao se falar em enfrentamento à ditadura militar.

3. Odair José

Paulo César de Araujo no livro "Eu Não Sou Cachorro Não", mostra como os cantores da chamada música Brega foram afetados pela ditadura militar. Odair José, responsável pelos sucessos "Cadê Você" e "Uma Vida Só", mais conhecida por seu refrão "pare de tomar a pílula", tiveram diversas músicas censuradas pelo governo.

"Especialmente com o AI-5, você tinha a repressão política e a repressão moral caminhando juntas. A MPB vai sofrer a repressão política, pois a temática de artistas como Vandré e Chico Buarque era a temática política. Eles faziam canções de protestos, músicas criticando o presidente Médici. Já os bregas vão tocar mais na questão moral, então vai sofrer outro tipo de repressão. Alguns deles fizeram canções de temática política, mas o foco maior e o que incomodou na época foi a questão moral. Eles falavam de temas considerados tabus, como pílula, prostituição, drogas e homossexualismo (sic). Por isso que o Odair José vai ser um dos mais censurados cantores da época. Suas músicas vão enfatizar, algo que era considerado subversivo. O Waldick Soriano sofreu menos, mas também sofreu.", relata Araújo em entrevista à Revista de História da Biblioteca Nacional.

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4. Amado Batista

Em uma revelação bastante polêmica durante uma entrevista à jornalista Marília Gabriela em setembro de 2012, o cantor Amado Batista revelou que foi preso por dois meses e chegou a ser torturado com agressões e choques elétricos.

Amado revelou que facilitava livros considerados subversivos na época e enviou somas de dinheiro a um professor universitário envolvido em ações esquerdistas e por isso foi detido. Na entrevista, no entanto, o cantor disse acreditar a tortura foi correta. "Eu acho que eu mereci. Eu fiz coisas erradas, então eles me corrigiram, assim como uma mãe corrige um filho", afirmou.

5. Milton Nascimento

O cantor Milton Nascimento não chegou a ser exilado como Caetano Veloso, Chico Buarque ou Gilberto Gil, porém teve diversas canções censuradas. A ditadura também o torturou psicologicamente, o proibindo de ver o filho por quase 20 anos.

Em entrevista à revista Serafina, da Folha de São Paulo o cantor relatou que foi ameaçado pelo então secretário de segurança de São Paulo, Erasmo Dias, falecido em 2010. Com medo das represálias, começou a beber e ainda hoje evita se aprofundar no assunto. "A situação melhorou. Mas o pessoal [que o ameaçou] ainda está ai, vivo. Prefiro deixar a coisa passar mais um pouco para poder falar sobre tudo", afirmou na entrevista.

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6. Norma Bengell

A atriz Norma Bengell é lembrada pela maioria das pessoas por protagonizar a primeira cena de nudez no cinema nacional em "Os Cafajestes" em 1962. Os mais jovens tem na memoria a participação da atriz no humorístico da Rede Globo "Toma Lá, Dá Cá", porém poucos sabem o papel que a atriz teve na luta contra a repressão no país. Por suas escolhas ousadas de papeis como a mulher que se prostitui para sustentar o marido na pela "Cordélia Brasil", em 1986.

Na estreia no Rio de Janeiro, a polícia jogou uma bomba de gás lacrimogênio dentro do teatro e ela chegou a ser levada por três homens ao 1º Batalhão Policial do Exército, onde foi interrogada por cinco horas sobre "a subversão na classe teatral". Posteriormente Norma também foi sequestrada e mantida por 48 horas no DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna), fato que relembrou em entrevista ao programa "Roda Viva" de 1988.

Veja também: 52 coisas que você não sabia sobre a ditadura militar brasileira.

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