14 detalhes que talvez você tenha perdido no clipe do Childish Gambino

O clipe de "This is America" tem muitas mensagens escondidas e as pessoas estão adorando falar disso.

No último domingo, dia 6, o rapper Childish Gambino lançou o clipe da música "This is America". No Brasil e nos Estados Unidos, muitas pessoas estão debatendo as referências e as diversas interpretações que estão no vídeo. Separamos as principais:

Caso você não conheça Childish Gambino é o nome artístico de Donald Glover. É importante que saiba que ele é um fenômeno na indústria do entretenimento americana. Além de rapper, ele é ator, diretor e roteirista. Ele já recebeu diversos prêmios por sua série Atlanta, que está disponível na Netflix.

1. Este cara cantando com o violão é o ator e músico Calvin The Second. Algumas pessoas acreditam que ele representa uma das primeiras tradições negras de música a ser sucesso nos Estados Unidos: o blues.

Donald Glover / YouTube / Via youtube.com

É importante lembrar que o blues é um gênero musical que surgiu da união e resistência da comunidade negra dos Estados Unidos no século XIX.

Publicidade

2. Algumas pessoas acreditam que as caretas e a forma de Childish Gambino se movimentar ao longo do clipe tem a ver com o personagem Jim Crown ou os Espetáculos de Menestréis.

Donald Glover / YouTube / Via youtube.com

Menestréis eram espetáculos em que um público branco e racista pagava para assistir outros homens brancos fazendo black face e imitando negros de modo cômico e estereotipado.

Segundo a historiadora Suzane Jardim, a origem dos menestréis está no personagem Jim Crow, criado por Thomas D. Rice, um comediante nova-iorquino. Em viagem ao sul dos Estados Unidos, ele descobriu o costume da população branca de comparar seus escravos à corvos ("crow" em inglês). Thomas também notou que, nos momentos de descanso, os negros escravizados cantavam uma canção sobre uma figura lendária chamada Jim Crow.

Com essas informações, Thomas teve a ideia de pintar o seu corpo todo de preto e se apresentar em casas de shows, onde cantava uma adaptação da música dos escravos. Nos espetáculos, ele interpretava o que considerava ser o "típico escravo negro": um cara burro, vestido de trapos, que faz trapalhadas e anda de maneira boba.

3. Algumas pessoas também acham que a morte do homem que tocava violão representa a tradição cultural que venceu no final: a do Jim Crow.

Donald Glover / YouTube / Via youtube.com

Publicidade

Para provar esse ponto, muitos estão comparando a forma como Childish Gambino se posiona para matar o outro homem com esta imagem de Jim Crow.

Domínio Público

4. Na sequência, Childish Gambino segue dançando com um grupo de jovens enquanto há um verdadeiro caos no plano de fundo. Há três interpretações possíveis para essas cenas - e isso não significa que elas são opostas entre si.

Donald Glover / YouTube / Via youtube.com

1. A primeira interpretação é de que Gambino faz uma crítica à forma como a população negra é vista atualmente: negros ganham aplausos e atenção apenas com o entretenimento, como se estivessem cumprindo um papel na sociedade. Porém, enquanto isso, a violência é uma realidade no cotidiano dessa comunidade nos Estados Unidos.

2. Algumas pessoas viram a mesma cena de outra forma. Para elas, a dança e a música são formas de resistir e sobreviver ao racismo. Essa interpretação vai ao encontro da ideia de que ser feliz num mundo que odeia negros pode ser considerado um ato revolucionário.

3. A terceira linha de interpretação é que mesmo que sejam ferramentas de resistência, a dança e a música podem fechar os olhos da juventude para os problemas atuais.

Publicidade

5. As danças feitas pelos estudantes reproduzem movimentos de trap, rap e da dança sul-africana Gwara Gwara. Por esse motivo, alguns ativistas do movimento negro relacionaram o figurino utilizado pelos dançarinos ao uniforme dos estudantes presentes no massacre de Soweto, na África do Sul.

Donald Glover / Jasam92 / YouTube / Via youtube.com

Em 1976, cerca de 15 mil jovens estudantes sul-africanos saíram às ruas para protestar contra o sistema de educação. Era o período do Apartheid e a maioria negra tinha que estudar em condições muito piores do que as da minoria branca. O principal fator que motivou a revolta dos alunos foi a obrigatoriedade nas escolas do africânder, idioma que tem origem no holandês e era falado pelos brancos, sendo considerado um símbolo da repressão pelos negros. A polícia reprimiu a manifestação com violência e matou mais de 20 estudantes.

6. Em muitas redes sociais você acha pessoas enxergando nesta cena uma referência ao massacre na igreja de Charleston.

Donald Glover / YouTube / Via youtube.com

Em 2015, um supremacista branco entrou numa igreja de uma comunidade negra dos Estados Unidos e matou nove pessoas.

Publicidade

7. Nos dois momentos em que Childish Gambino utiliza a arma para matar pessoas, surge um rapaz segurando um pano para recolher o revólver com todo o cuidado possível. Em contraponto a isso, os corpos dos negros assassinados são recolhidos de qualquer jeito. Essa diferença de tratamento pode significar que armas importam mais do que vidas negras.

Donald Glover / YouTube / Via youtube.com

E ainda notaram um outro detalhe. O pano é vermelho e pode sugerir que quem vende armas protege a política de armamento dos Estados Unidos e tem sangue nas mãos - e esse sangue é de pessoas negras.

8. Há uma cena em que um cavaleiro todo de preto aparece em cima de um cavalo branco. Tem circulado uma interpretação de que ele representa a morte.

Donald Glover / YouTube / Via youtube.com

Além disso, muitos têm dito que o cavalo branco faz referência à Apocalipse 6:8, que fala da morte montada em um cavalo branco. Porém, em algumas versões em português da Bíblia, a tradução colocou o cavalo como "amarelo".

Publicidade

9. No clipe também aparece um grupo de pessoas - que parecem crianças - encapuzadas e com celulares gravando tudo o que está acontecendo de cima de uma sacada. Para essa cena, tem circulado no Brasil a interpretação de que Childish Gambino critica quem faz militância virtual e ignora os problemas reais da população negra.

Donald Glover / YouTube / Via youtube.com

Publicidade

11. Também teve uma pessoa que se jogou da sacada, a mesma em que as pessoas filmam tudo com o celular. Nos Estados Unidos, especula-se que a cena faz uma crítica ao fato de poucos se importarem com os suicídios no país enquanto muitos estão muito atentos às novas tendências na dança.

Donald Glover / YouTube / Via youtube.com

12. No final do clipe, Gambino surge em meio a carros antigos e canta "get your money, black man" - que em tradução livre fica "conquiste o seu dinheiro, homem negro". Nessa cena também aparece a cantora SZA. A contradição do cenário, da letra da música e da postura do músicos foi interpretada nos Estados Unidos como uma mensagem de que não há dinheiro que repare os danos causados pelo racismo. Porém, ainda assim, os negros devem manter uma postura de orgulho.

Donald Glover / YouTube / Via youtube.com

Publicidade

13. No Brasil, essa mesma cena foi entendida como uma forma de dizer que, mesmo que tenhamos ícones negros ascendendo socialmente, a comunidade negra está parada no tempo e seus problemas atuais são os mesmos do passado.

Donald Glover / YouTube / Via youtube.com

14. Por fim, Childish Gambino corre por um corredor escuro enquanto foge de policiais brancos. Sobre esse momento, alguns acreditam que a cena significa o beco sem saída em que negros vivem, já que os policiais estão muito próximos e irão pegá-los. O terror no rosto do músico mostra que não importa o que uma pessoa negra faça, o racismo sempre irá atingi-la.

Donald Glover / YouTube / Via youtube.com

Ainda sobre essa cena, há a interpretação de que ela faz referência ao filme "Corra", do diretor Jordan Peele.

Publicidade

Veja também:

13 provas de que os negros estão vendo racismo em tudo

29 fotos perturbadoras de quando a segregação racial era permitida nos EUA

20 detalhes e referências que talvez você tenha perdido no filme "Corra!"

Você já tem o app do BuzzFeed Brasil no seu celular? Baixe gratuitamente no Android e no iOS para ver todos os nossos testes, vídeos, notícias e muito buzz.

Veja também