12 coisas que pessoas queer do Brasil gostariam que você soubesse

"Meu nome ou pronome não estão abertos para debate."

O BuzzFeed Brasil conversou com pessoas da comunidade queer no Brasil e perguntou: o que você gostaria que as pessoas soubessem sobre ser queer?

As respostas podem ter sido editadas para concisão e clareza.

1. "Queer é tudo que transgride o habitual, a norma, aquele lance do homem usar azul, calça e cabelo curto e a mulher usar rosa, vestido e cabelo comprido."

"Hoje as coisas mudaram e temos uma tolerância maior sobre vestimentas, mas ainda se estranha que a menina use uma camisa larga e cabelo curto. Isso não faz dela lésbica. E aquilo que as pessoas normativas estranham, faz parte do queer - corpo, vestimenta ou orientação que questiona, confunde politicamente ou culturalmente", disse Emilia Akemi, designer queer, ao BuzzFeed Brasil.

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2. "Eu sempre estranhei ao me definirem como mulher e nem me encaixo no que é o ser homem hoje em dia."

Emilia Akemi explica que se relaciona com uma mulher, mas que não se identifica tradicionalmente como homem e nem mulher. "Eu sempre estranhei ao me definirem como mulher e muito menos me sinto confortável de dizer ou me encaixar no que é o ser homem hoje em dia. Então não me sinto confortável em nenhum dos dois e descobri que tudo bem. Porque desde sempre isso foi enfiado goela abaixo pela sociedade com centenas de signos que são apenas preceitos que alguém que nunca encontrei na vida definiu", disse.

3. "Ser queer no Brasil é um desafio, algo difícil das pessoas entenderam, inclusive dentro da comunidade LGBT."

Priscilla Bertucci, que adota os pronomes "ele/dele" e "ile/dile" é um dos principais nomes do ativismo queer no Brasil e fundador do SsexBbox, um projeto que busca visibilizar o debate das questões de gênero. Ao BuzzFeed Brasil ele disse: "Quanto mais as pessoas entendem todas as possibilidades de existência, mais conhecimento elas vão tendo sobre si mesmas e sobre o processo coletivo. Incluir o Q na sigla LGBT não invalida ou confunde em nada."

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4. "O conceito queer é um guarda-chuva INCLUSIVO, e não exclusivo."

"Eu gosto de dizer gênero queer no lugar de não-binário, pois isso quer dizer várias coisas, e não é uma negação de nada. Até um casal hétero e cis que transa diferente do padrão 'homem penetra mulher', está tendo uma atitude queer. Ou seja, não é apenas uma identidade, mas também um espectro da sexualidade. É 'queerificar' as coisas, como verbo mesmo, inverter a lógica, questionar, fazer de um outro jeito", disse Priscilla.

5. "Infelizmente, a língua portuguesa é binária e atrapalha esse entendimento."

Priscilla Bertucci diz que existe um esforço para neutralizar o gênero no português, como falar "amigue" e "convidade", mas que ainda é muito difícil democratizar a língua para quem não se identifica na binaridade. "Eu não quero mudar de nome, eu sou 'o Priscilla' e a ideia é questionar mesmo, causar estranheza."

Priscilla e o SsexBoxx lançaram o Manifesto Ile, propondo o uso dos pronomes "ile/dile" para uma comunicação inclusiva. "Nossa língua não previu a mudança de paradigma que está acontecendo no nosso tempo. Nossa língua não é flexível o suficiente pra designar alguém que não se sente nem homem, nem mulher", afirma o documento.

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6. "Meu nome ou pronome não estão abertos para debate."

Hugo Nasck é YouTuber e fala sobre sua identidade não-binária em diversos vídeos do seu canal. "Existe uma coisa que tu precisa ter para conversar com qualquer pessoa e isso é o respeito. Se eu falo que meu nome é Hugo, mas que meus pronomes são 'ela' e 'a', a única que pode ser discutida é se eu falo biscoito ou bolacha", explicou ao BuzzFeed Brasil.

7. "Ser queer não é modinha."

"Queer ou não-binário não é uma invenção do Tumblr, dizer que identidades que vão além de homem e mulher são algo inventado agora apenas deixa nítido o quanto precisamos falar sobre o assunto. Identidades variantes estão presentes na nossa história em diversas culturas há mais de dois mil anos antes de Cristo. O que precisamos entender é que uma sociedade onde a estrutura de poder se usufrui do gênero, perpetuar a ideia de que existem apenas dois é útil e vantajoso", afirma Hugo.

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8. "Se você já foi chamado de esquisito em algum momento da vida... bem, você já foi queer em algo."

Para Emilia Akemi, você pode ser queer sem saber. "Queer é contracultura, o lance do esquisito, que é legal e diferente. Se você já foi chamado disso em algum momento da vida... bem, você já foi queer em algo", disse.

9. "O que temos ou não no meio das pernas não é propriedade pública."

"Durante minhas streams e até mesmo na rua, minhas genitálias são extremamente relevantes. Coisa que para mim é, no mínimo, bizarra. Afinal, ser queer ou trans não torna o meu corpo público. Eu sempre falo que é a mesma coisa se tu conhecesse um homem cis e, em vez de perguntar que séries ele gosta, perguntasse: 'Mas então, tu lava direitinho sua fimose?', afirmou Hugo Nasck em entrevista ao BuzzFeed Brasil.

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10. "Você pode ter certeza de que não somos quem somos apenas para chamar atenção."

"Por mais que a atenção seja necessária para a causa, não somos queer por isso. Buscamos quem realmente somos e a forma que nos sentimos bem. Isso só chama atenção porque, em uma sociedade onde todo mundo parece sair do mesmo molde, qualquer pessoa que fuja da regra irá chamar atenção", afirma Hugo.

11. "O banheiro é complicado, porque quem é como a gente não cabe em nenhum lugar."

Reprodução/SsexBbox / Via Facebook: SSEXBBOXDoc

"Se você vai no banheiro masculino, você é rechaçado, se vai no feminino, também. Sempre é desconfortável, sempre há olhares", revela Priscilla Bertucci que tem uma consultoria dentro do projeto SsexBbox para tornar banheiros públicos mais inclusivos.

"A gente põe na placa que é para mulher cis, trans, branca, negra, alta, baixa, e pessoas não-binárias - e o mesmo para o masculino -, de forma que as pessoas não se sintam tão desconfortáveis", explicou.

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12. "Ser queer é uma manifestação também política, cultural e econômica."

O site queerbrasil.com.br criou um catálogo que mapeia e divulga artistas queer no cenário brasileiro, incluindo Lia Clark, Linn da Quebrada e Jaloo.

Ao BuzzFeed Brasil, Piscilla Bertucci explicou que, em São Francisco (EUA), onde o movimento queer começou, já se fala em como isso pode se manifestar além da sexualidade e identidade. "Ser queer inclui um pensamento de responsabilidade social, sustentabilidade e representatividade. Não adianta a moda, por exemplo, querer usar o discurso do não-binário na roupa, se ela usa trabalho escravo e destrói o meio ambiente", disse.

Você pode seguir Emilia Akemi no Instagram.

Para ver vídeos da Hugo Nasck, é só se inscrever no canal do YouTube e segui-la no Instagram.

Para mais informações sobre o SsexBbox, acesse o site e siga no Instagram.

Você pode seguir Priscilla Bertucci no Instagram.

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