O que esperar quando você é um pai trans e está grávido

"A maioria dos vídeos de parto mostra mulheres dando à luz, a maior parte dos livros mostra casais hétero. Meu papel como pai é buscar recursos que mostrem famílias diferentes e mostrá-los para os meu filhos, para que eles saibam que existem diferentes tipos de família."

Sarah Karlan para o BuzzFeed News

Trystan Reese com sua filha, Hailey.

"Achei que seria destemido. E daí que sou um homem grávido? Foda-se! Mas tinha muito medo de me machucarem ou me atacarem. Toda aquela minha atitude radical e nem aí se dissipou porque meu corpo inteiro estava dedicado a manter o bebê e a mim mesmo em segurança."

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Há quatro anos, Trystan Reese mora em Portland, no noroeste dos Estados Unidos, com seu marido, Biff Chaplow, e seus dois filhos adotivos (um sobrinho e uma sobrinha biológicos de Chaplow). A família leva uma vida normal – escola, trabalho, visitas de amiguinhos, supermercado etc. As crianças chamam Trystan de “papai” e Biff de “papa”.

Recentemente, Trystan e Biff começaram a discutir a ideia de aumentar a família. Trystan, um homem transexual de 34 anos, gestaria o primeiro filho biológico do casal. Quando Trystan engravidou, os dois decidiram compartilhar parte de sua jornada na internet, mas não esperavam que a história viralizasse. Um homem trans grávido não é um milagre da medicina, e Trystan certamente não é a primeira pessoa a passar por isso diante dos olhos do público – pense em Thomas Beatie no programa de Oprah Winfrey, em 2008 –, mas a história do casal chamou muita atenção, positiva e negativa.

Visitamos a casa da família quando Trystan estava no nono mês – no dia previsto para o parto, na verdade – para saber mais sobre sua decisão de contar a história publicamente, o que é ser um pai trans e o que o futuro guarda para famílias parecidas. O relato abaixo é resultado de várias entrevistas realizadas pessoalmente e por telefone antes do nascimento de Leo, o filho do casal. As respostas foram editadas.

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Sarah Karlan para o BuzzFeed News

Trystan: Conheci Biff em 2010. Éramos muito envolvidos com o movimento LGBT; eu do lado da organização política e Biff na parte de justiça econômica e social. Nos conhecemos num brunch organizado por um amigo em comum (Biff era o único não-trans no brunch). Meu radar trans é bem afiado, então não foi surpresa. Me interessei logo que o vi. Já ele não estava nem um pouco interessado em mim – em parte porque, como vim a saber depois, tinha um pedaço de verdura nos meus dentes. Sei que não posso ficar reclamando dos meus amigos, afinal de contas deu tudo certo, mas vamos combinar, né?

Desde então, acho que não passamos nenhuma noite separados, tirando viagens de trabalho.

Depois de um ano, decidimos morar juntos. Três meses após isso acontecer, soubemos que os filhos da irmã dele seriam colocados sob a guarda do Estado se não os assumíssemos e... será que a gente poderia assumir as duas crianças? No passado, Biff tinha sido basicamente uma segunda mãe na família dele, ajudando a criar os irmãos. Se não ficássemos com as crianças, provavelmente nunca as veríamos de novo. A resposta era bem clara para mim: vamos nessa.

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Sarah Karlan para o BuzzFeed News

Biff e Trystan com seus filhos Riley e Hailey.

, Sarah Karlan para o BuzzFeed

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Era uma coisa muito maior que casamento – era um compromisso que duraria mais de 18 anos. As crianças estão com a gente há cinco anos, vamos completar seis anos em setembro. Celebramos o dia da família todo ano, no dia em que elas vieram morar conosco. É um dos dias em que ficamos juntos e em que as estimulamos a fazer perguntas. Todo ano elas vêm com uma pergunta diferente. Tentamos garantir que as perguntas e as conversas estejam sempre avançando para que eles entendam tudo o que está acontecendo.

As crianças fazem parte integral das nossas vidas e das nossas identidades como pais. Não consigo imaginar uma vida diferente. Tive momentos de dúvida, nos quais pensei: “Será que podemos voltar atrás?” Talvez eu devesse ser o tio divertido, não o pai. Mas eu e Biff nos equilibramos – quando estou instável, ele me coloca de novos nos trilhos. Não sei se teria tanta certeza de ter escolhido o parceiro certo se tudo isso não tivesse acontecido conosco. Não há ninguém que combine melhor comigo, que seja uma pessoa mais perfeita para me acompanhar nessa jornada.

Sarah Karlan para o BuzzFeed News

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Tenho uma tatuagem enorme de Peter Pan em um dos braços. Sempre foi uma coisa minha: jamais crescer. Quando fiz minha transição – há 14 anos –, quando comecei a tomar os hormônios, não queria casar, ponto. Não queria comprar uma casa nem um carro! Sempre quis ser uma pessoa livre, leve e solta. Há alguns anos percebi que estava pronto para o passo seguinte, ser parceiro de alguém ou de “alguéns”.

Achei que tinha desistido de ter uma família – nem considerava isso uma opção. Nunca sonhei ter, ou querer ter, uma criança biológica. Primeiro, achava que não seria possível; segundo, demorou muito tempo para que me sentisse suficientemente forte na minha identidade como homem para poder fazer isso. E eu não queria simplesmente ter um filho – queria ter um filho de Biff. Só depois de conhecê-lo é que finalmente entendi o que todos os héteros falam. Provoquei minha irmã quando ela teve filhos. Por que você quer ter filhos? Por que seu DNA é tão especial? E agora olhe para mim. E não é meu DNA que é tão especial, é o dele.

Sarah Karlan para o BuzzFeed News

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Queria ter certeza de que entendia o lado médico – não queria que a gravidez fosse um experimento.

Depois de conhecer Biff, comecei a pensar: “E se tivéssemos um bebê juntos e eu o gestasse?” Mas aí vieram as outras crianças, antes que pudéssemos conversar sobre o assunto. Elas tomaram conta de nossas vidas e se tornaram o foco principal durante anos. Só depois que a adoção foi finalizada, cerca de dois anos atrás, que a poeira parece ter assentado. Agora, pensei, podemos construir nossa vida da maneira que queremos.

Fiquei obcecado pela ideia de ter um filho. Fiquei com esses pensamentos na cabeça por bastante tempo, refletindo e fazendo pesquisas. Conhecemos muitos outros homens trans que tiveram filhos, que engravidaram sob supervisão médica, e as gestações foram felizes e saudáveis. Queria ter certeza de que entendia o lado médico – não queria que a gravidez fosse um experimento.

Disse para Biff: “Queria saber o que você acha de a gente ter um filho, uma criança biológica que eu gestasse”. Inicialmente, ele disse não. Achou a ideia mais idiota do mundo. Estava preocupado com a minha segurança. Além disso, nossos filhos tinham chegado a uma idade em que conseguíamos dormir até as 8h – por que começar tudo de novo? Meu Deus do céu, por que passar por tudo aquilo mais uma vez?

Nós dois tiramos um tempo para pensar e, depois de uns meses, ele veio me dizer que tinha refletido. Se eu realmente quisesse, ele estava disposto a explorar a ideia.

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Sarah Karlan para o BuzzFeed News

Consultei um especialista em gravidez aqui em Portland que por acaso atendia pelo meu plano de saúde. Conversamos, fiz um ultrassom e eles concluíram que não seria muito diferente de uma mulher que tivesse tomado anticoncepcionais hormonais e interrompido seu ciclo menstrual durante anos. Eu teria de parar de tomar testosterona para ter alguns ciclos, e a diferença entre mim e uma mulher tentando conceber seria mínima. Parei de tomar os hormônios.

Na primeira vez que engravidei, não sabia que estava ovulando e, em vez de começar um novo ciclo, engravidei logo de cara. Não é tão incomum; a primeira vez em que você ovula depois de bastante tempo pode causar uma hiperovulação, o que aumenta as chances de conceber mesmo que seu corpo não esteja pronto para levar a gravidez até o fim. Esta gravidez durou apenas algumas semanas.

Os enfermeiros e os médicos me avisaram que uma em cada quatro gestações não são bem-sucedidas, então eu não tinha por que me preocupar. Todas as fibras do meu corpo diziam que deveríamos começar a tentar de novo. Mas Biff estava assustado. Parar com os hormônios mexeu demais com meu humor, e ele tinha de lidar com isso. Também tínhamos duas crianças para cuidar. Era muita coisa. Biff disse que deveríamos esperar um ano. Ouvir aquilo me deixou em pânico. Mas confio nele e, se ele quisesse esperar um ano, tudo bem. Ter um filho não era tão importante quanto ter um relacionamento saudável.

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Sarah Karlan para o BuzzFeed News

Sei que os hormônios são importantes em nossas personalidade, mas pensei: “Sou adulto. Sei administrar minhas emoções e reações”. Só que subestimei demais os efeitos que os hormônios e o equilíbrio hormonal têm no corpo e no cérebro, como eles afetam sua personalidade e a maneira como você interage com o mundo. Foi terrível. Não foi terrível da perspectiva trans – foi terrível da perspectiva humana. Não me senti desconectado do meu gênero, mas coisas sem importância passaram a me incomodar demais! Foi realmente muito difícil, e tenho orgulho de ser um bom pai e um bom parceiro, mas era tudo mais complicado quando os hormônios estavam fora de controle.

Então tentamos ativamente não conceber, mas logo ficou claro que seria difícil para mim ficar sem os hormônios durante um ano, ou então parar e voltar.

Amanhã vou encontrar com a equipe médica para saber quando vou poder voltar a tomar os hormônios depois da gravidez. Às vezes a testosterona ajuda na recuperação do corpo. Se não fizer cesárea, o ideal é esperar mais. Mas se o parto for cirúrgico, o regime de
hormônios pode ajudar. Meu objetivo é voltar a tomá-los assim que possível.

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Sarah Karlan para o BuzzFeed News

Compartilhar nossa história publicamente on-line foi uma decisão importante e muito consciente. Algumas coisas não vamos contar, ponto. Também somos muito seletivos na escolha de quem vai ouvir nossa história. O apresentador de TV britânico Piers Morgan quis nos entrevistar, mas dissemos não; a conversa seria uma defesa do nosso direito de existir, e não estamos interessados. Analisamos o cenário do movimento trans e da aceitação dos trans em nossa cultura. Será que compartilhar nossa história vai ajudar a avançar o diálogo? Temos a oportunidade de ampliar o significado de ser trans nos Estados Unidos hoje? Será que vai ser provocador demais, atrapalhando a aceitação? Será que as pessoas estão prontas para a gente?

Dez anos atrás, quando Thomas Beatie saiu do armário [como homem trans grávido], acho que o público não estava pronto. Acho que a história dele fez mais mal do que bem. Eu era um jovem trans na época e lembro de ter ficado bravo com ele: As pessoas não estão prontas pra isso, por que você está fazendo isso conosco?

Agora olhamos para Laverne Cox, Janet Mock, e as pessoas realmente estão defendendo que as pessoas trans sejam aceitas e celebradas. Por isso achamos que poderíamos contribuir. O grande motivo pelo qual tornei esse processo público é por que estou pronto para a próxima grande narrativa trans. Essa ideia de que ser trans significa que odiamos nossos corpos, que queríamos ter nascido em corpos diferentes, que só queremos ser como os não-trans ou como as pessoas do gênero que escolhemos – isso não é verdade para muitos de nós. Adoramos ser quem somos. Pode ser verdade para alguns dos trans, mas não para todos.

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Temos a oportunidade de ampliar o significado de ser trans nos Estados Unidos hoje?

Foi chocante perceber que a maior reação veio da comunidade LGBTQ, da ala esquerdista e radical. As pessoas disseram que tínhamos de parar de atribuir gênero ao nosso filho. Ele é homem, é um menino, e estamos escolhendo um nome tradicionalmente masculino. Nunca ficam satisfeitos.

Que outros riscos querem que a gente corra? Sou trans, sou um homem grávido, pensei a respeito disso tudo. Não é algo que estamos fazendo porque acreditamos em gêneros binários – mas estatisticamente nosso filho provavelmente vai se identificar como menino. Ser trans ainda é
raro; ele provavelmente não será trans.

Não estamos tentando complicar as coisas para ele ou para a gente além de tudo o que já está acontecendo. Ser neutro em relação a gênero é uma escolha que pode deixá-lo infeliz no futuro, assim como se escolhêssemos um gênero com o qual ele não se identifique. Eu sobrevivi e tive uma vida normal sendo criado com certas normas de gênero e tendo que me ajustar e adaptar. Não acho que tenha sido a pior coisa que aconteceu comigo.

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Todo mundo se acha no direito de ter suas opiniões e de compartilhá-las conosco. Tem o “Não estamos julgando, mas você não deveria colocar uma criança no mundo sabendo que ela vai ser vítima de provocações porque é diferente”. Isso é chocante para mim, porque qualquer pessoa oprimida pode ouvir esse tipo de coisa. Como ouso colocar uma criança no mundo? Não vou parar de viver minha vida porque o resto do mundo é zoado.

E tem o negócio do sexo. “Isso é um tesão, manda nudes.” De jeito nenhum. Isso é aquele tipo de bizarrice que pra mim chega a ser engraçado.

E tem também o: “É a turma do arco-íris tentando forçar sua agenda”.

E aí tem os super 4-chan, neonazis, assustadores: “É coisa de freak show”, “espero que seu filho morra” e por aí vai. “Você é um merda.”

Recebo esse tipo de mensagem todo dia.

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Sarah Karlan para o BuzzFeed News

Tenho de me policiar para não ler os comentários. É veneno puro e com certeza vai me
magoar. As pessoas que fazem parte da minha vida me ajudam com isso. Tenho a sorte de contar com aliados incríveis. Amigos monitoram minha página no Facebook várias vezes por dia para deletar comentários de ódio e bloquear pessoas. Não vejo mais esse tipo de comentário. Se aparece uma mensagem positiva, passam para mim.

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Não tem nada que me digam que eu já não tenha ouvido.

Sou trans há mais de uma década, o que no mundo trans é muito tempo. A esta altura, sou um ancião trans. A vida dos trans nunca foi particularmente longa. Tenho muita resiliência quando se trata das coisas que dizem pra mim. Naveguei o mundo dos homens gays sendo trans; usei o Grindr. As pessoas não falam por maldade – normalmente é por ignorância ou curiosidade. Não tem nada que me digam que eu já não tenha ouvido. Aprendi cedo a ser seletivo e usar minha energia da melhor maneira possível.

Biff: Quanto mais as pessoas nos apoiam e compartilham nossas histórias com mensagens positivas, mais pressão fazem sobre os outros para que sejamos levados a sério. Mas uma parte sempre vai achar que é um freak show.

Trystan: “Vocês estão complicando as coisas para a gente. Vocês estão confundindo as pessoas” – esperava muito mais desse tipo de comentário, mas não foram muitos.
“Obrigado por expandir o que significa ser homem, ser trans, ser família”, foi
o que ouvimos, na maior parte das vezes, de pessoas da comunidade LGBTQ.

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Sarah Karlan para o BuzzFeed News

Trystan: Sempre subestimo a dificuldade das coisas. Biff é mais realista. Não dava para perceber que eu estava grávido até o sétimo mês, e era inverno, então era fácil colocar um suéter, um cachecol; ninguém notava. Além disso, ninguém espera encontrar um homem grávido, então foi fácil esconder. Só recentemente que virou: “PQP, olha um homem grávido!”

O cérebro produz um monte de hormônios de ansiedade no fim da gravidez. Era assim que você sobrevivia nos tempos do homem de Cro-magnon ou algo do tipo. Mas isso realmente mexeu comigo. Achei que seria destemido. E daí que sou um homem grávido? Foda-se! Mas tinha muito medo de me machucarem ou me atacarem. Toda aquela minha atitude radical e nem aí se dissipou porque meu corpo inteiro estava dedicado a manter o bebê e a mim mesmo em segurança. Isso foi muito surpreendente.

Biff: Uma época decidimos que Trystan pararia de ir para o trabalho de trem. Mas no último mês estamos bem tranquilos com relação a sair em público. Nunca ouvimos comentários negativos em público. On-line, obviamente, é diferente. Algumas coisas você tem de simplesmente ignorar. Você não pode olhar, acompanhar, ler os comentários. Tem de ignorar porque são armadilhas emocionais – você é puxado pra dentro, e não faz bem para ninguém.

Trystan: As duas últimas semanas da gravidez são superdifíceis, então não quis pegar o trem. Estou trabalhando de casa. A esta altura, quero apenas ser mais um na multidão, não quero chamar a atenção para mim em público. Fomos à passeata do orgulho gay – e também à marcha dos trans e ao festival do orgulho gay. Foi incrível, porque muita gente veio nos dizer que tinha lido a história, queriam nos agradecer por contá-la. Quando vou comprar café, o barista diz que me viu no Facebook. Estamos em Portland, um homem grávido não terá sido a coisa mais esquisita que a pessoa viu naquele dia.

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Sarah Karlan para o BuzzFeed

Trystan e Biff no quintal de casa momentos antes de contar para os filhos que o parto seria induzido na manhã seguinte.

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“Obrigado por expandir o que significa ser homem, ser trans, ser família”, foi o que ouvimos, na maior parte das vezes de pessoas da comunidade  LGBTQ.

Trystan: Eu sou o papai, Biff é o papa. Também é contextual. Sabemos que, quando as crianças perguntam sobre comida, é com Biff – “Papai, posso tomar um picolé?”. “Papai, você pode jogar bola com a gente?”, é comigo.

As crianças conhecem outros trans e gays que também têm filhos. Mostro fotos de Jay, um amigo que vai ser pai. É meio um assunto recorrente. Hayley sempre sentiu muito orgulho da nossa família e adora contar para os amigos sobre seu pai trans. É a personalidade dela. Riley é muito mais sensível e tem medo de ser julgado. Ele pediu para que não contássemos para seus amigos da escola; ele quer decidir quem vai lhe dar apoio – ele é um pouco mais velho. Tentamos respeitar essa posição, dentro dos nossos limites.

Biff: As crianças têm total noção do que está acontecendo. Conversamos com eles o tempo todo sobre o que é ter pais trans ou uma família diferente. Não falamos muito sobre o lado negativo, só dizemos que algumas pessoas vão achar diferente, mas é OK ser diferente.

Trystan: Mas com certeza nosso bebê vai saber da sua história. Temos muito orgulho dela, da nossa família, desse mosaico de peças que caem nas mãos das pessoas como a gente.

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Sarah Karlan para o BuzzFeed News

Sarah Karlan para o BuzzFeed News

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Sarah Karlan para o BuzzFeed News

Biff e Trystan com o filho, Leo.

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Trystan: Se estou lendo um livro sobre o parto e ele se refere a mulheres, mães, esposas – eu é que estou fazendo algo diferente aqui. Eu é que estou entrando de penetra na festa que abandonei quando tinha 20 anos.

Biff: A maioria dos vídeos de parto mostra mulheres dando à luz, a maior parte dos livros mostra casais hétero. Meu papel como pai é buscar recursos que mostrem famílias diferentes e mostrá-los para os meu filhos, para que eles saibam que existem diferentes tipos de família.

A maioria das pessoas são mais fluidas em seus gêneros do que imaginam. Há tantas conotações que vêm com ser homem ou mulher, ser masculino ou feminino. Todo mundo se desvia dessas normas de alguma maneira, alguns mais que outros. Pode chamar como quiser, mas a verdade é que todos estamos melhor quando podemos escolher as coisas que fazemos melhor, quando podemos escolher esses papéis – não o inverso, fazendo isso ou aquilo porque você é homem ou mulher. Essa é a parte legal da nossa família – posso decidir se quero cumprir este ou aquele papel. Sou um pai e um parceiro melhor porque estou escolhendo o que faço bem e deixando Trystan fazer as coisas que ele gosta.


Sarah Karlan para o BuzzFeed News

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A maioria dos homens trans não tem um relacionamento com o próprio corpo que os permita se envolver com algo que tenha raízes tão femininas [quanto engravidar].

Trystan: Dizem que a gravidez, especialmente no fim, é muito difícil – Deus do céu, como é difícil. Minhas costas doem, minha pele está esticada. Vou comemorar quando o bebê estiver fora do meu corpo. Qual será a cara dele? E a personalidade? Será que está tudo bem lá dentro? Me joguei de cabeça na ciência da gravidez. O que os cérebros deles entendem? Será que eles têm consciência? Estou ansioso e impaciente para conhecê-lo, vê-lo, tê-lo em nossas vidas.

Não senti disforia em relação ao meu corpo durante a gravidez. Estou mais interessado na parte científica – olha do que meu corpo é capaz! Para mim, gravidez não tem conexão com mulheres ou feminilidade.

Acho que homens trans grávidos continuarão sendo raridade – apesar de eles existirem e nós não sermos os primeiros. A maioria dos homens trans não tem um relacionamento com o próprio corpo que os permita se envolver com algo que tenha raízes tão femininas. É algo que suas mães fizeram, suas irmãs fizeram. Espero que parte disso seja social, que não seja um traço inerente aos transgêneros. Espero que mais pessoas passem pelo que passei graças ao apoio de quem está à minha volta. Espero que o estigma diminua. Que as pessoas não digam: “Bom, então você não é realmente um homem.”

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Sarah Karlan para o BuzzFeed News

Este post foi traduzido do inglês.

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