13 coisas que moradores de ocupações gostariam de dizer

Não moramos de graça, mas o que pagamos não é um aluguel.

Conversamos com alguns moradores e ex-moradores de ocupações de São Paulo e Rio de Janeiro e aqui está o que eles gostariam de dizer. Por motivos de segurança, eles preferiram não se identificar.

1. "Só fui morar em uma ocupação porque minha única outra alternativa seria morar na rua".

Há muitas famílias com crianças e, sobretudo, mães sozinhas com filhos – muitas delas saídas de episódios de violência doméstica sofrida em casa.

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2. "O que pagamos mensalmente não é um aluguel, e sim uma taxa de colaboração que é usada para a manutenção do prédio".

O prédio precisa de manutenção, energia elétrica, limpeza, segurança e bomba de água. O dinheiro é administrado pelo movimento e parte dele é guardado para imprevistos. Não é como um aluguel, pois o pagamento da taxa não é para o lucro de uma pessoa ou do movimento. Ocupações não seguem a mesma lógica de convivência e organização de prédios habitacionais convencionais.

3. "Eu trabalhava numa cooperativa de materiais recicláveis para comer e pagar essa taxa. Tudo o que eu não sou é vagabundo".

Muitos moradores de ocupações trabalham em empregos que pagam muito pouco. A maior parte deles são artesãos, catadores de materiais recicláveis, auxiliares de limpeza e seguranças. Chamá-los de desocupados ou vagabundos é apenas preconceito.

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4. "Nem todo mundo consegue ter acesso a algo básico como um comprovante de residência".

Um problema recorrente quando se mora em ocupação é a falta de um documento que comprove a sua residência. A falta desse documento básico pode impedir as pessoas de terem acesso a diversas políticas públicas e serviços básicos do estado.

5. "E por conta disso, muitas vezes é preciso fazer o dobro para ter acesso a um serviço público e gratuito, como matricular seu filho em uma escola".

Em alguns casos, os movimentos tiveram que recorrer à Justiça para que as mães que moram na ocupação conseguissem matricular seus filhos nas escolas da região. Em outras situações, para ter acesso à políticas públicas, as pessoas procuram assistentes sociais para obter uma declaração de que a sua residência é no endereço da ocupação.

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6. "Outras vezes, contar que você mora em uma ocupação é garantia de portas se fechando".

Além das barreiras burocráticas, ainda tem o preconceito. As vagas em emprego ou escola que antes existiam somem quando são para pessoas que moram em ocupações. Em muitos casos, as pessoas são humilhadas por estarem nessa situação, o que as deixa ainda mais vulneráveis.

7. "Em muitas ocupações, é obrigatório comparecer às reuniões do conselho do movimento".

É a partir dessas reuniões que tudo é organizado: desde detalhes do dia a dia, como limpeza e segurança, até as agendas de reivindicações e atividades culturais.

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8. "Quem não cumpre seus turnos no revezamento da limpeza ou de outras tarefas coletivas pode ser convidado a deixar a ocupação".

Em algumas ocupações, é obrigação dos moradores fazer a limpeza dos locais comuns. Mesmo que exista uma taxa para isso, o valor é reduzido e não é possível contratar funcionários para essa função. Por isso, os moradores se dividem em turnos para fazer o trabalho. Outras atividades também podem ser obrigatórias, como a organização de uma festa ou de um bazar para arrecadar dinheiro. Enfim, tudo o que diz respeito à vida coletiva é igualmente cobrado de todos.

9. "Depois que vim morar na ocupação consegui um emprego e fazer uma faculdade".

As articulações políticas de algumas ocupações fizeram com que elas realizassem diversos projetos culturais em parceria com o poder público. Além disso, há movimentos que organizam formações de capacitação profissional e social. Muitas pessoas mudaram completamente as suas vidas quando passaram a morar em ocupações, seja conseguindo um emprego ou então se formando em uma faculdade por meio do FIES (Fundo de Financiamento Estudantil).

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10. "Porém, algumas ocupações não estão ligadas à movimentos políticos e por isso são mais desorganizadas. Mas essa não é a regra."

Morar em algumas ocupações pode ser uma experiência horrível e extremamente predatória. Nem todas elas possuem líderes bem intencionados e preocupados com a organização e a segurança dos moradores. Essa realidade faz com que muitas pessoas e veículos jornalísticos generalizem a luta por moradia, o que acaba prejudicando os movimentos que fazem um trabalho sério e estão em constante diálogo com o poder público.

11. "Ter acesso a água encanada, luz, circulação de ar, espaço para andar em casa, segurança e respeito é um luxo no Brasil".

Não deveria, mas é.

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12. "Ainda assim, eu me considero uma pessoa privilegiada por poder pagar essa taxa e ter onde guardar as minhas coisas. Afinal, algumas pessoas nem isso têm".

13. "Quando você sugere que as ocupações devem acabar, isso é o mesmo que dizer que eu e a minha família devemos morar na rua".

Enquanto o direito à moradia não for de fato um direito, essa é a realidade.

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