7 aspectos do Transtorno de Personalidade Borderline e como eu vivo com eles

Segundo a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), cerca de 10% dos pacientes diagnosticados com o TPB no Brasil cometem suicídio.

Ano passado fui diagnosticada com o TPB (Transtorno de Personalidade Borderline), um transtorno afetivo que, nas minhas palavras, faz com que eu sinta como se meus sentimentos estivessem sob uma lupa de aumento, como se o mundo fosse demais para mim. Desde então li muitas coisas sobre o assunto, algumas até mesmo dolorosas, mas aqui estão os pontos que acredito que todo mundo deveria saber.

1. Ser borderline não é a mesma coisa do que ser bipolar.

Apesar de viver sempre no limite das situações, o transtorno não se trata apenas da mudança do humor, mas também da forma com que lidamos com afetos, como namoros, amizades e até relações de trabalho.

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2. É como se nossos sentimentos fossem a tempestade e nós, o copo d’água.

O Transtorno de Personalidade Borderline é caracterizado por instabilidade de relações sociais e pessoais, de autoimagem, humor, além de comportamentos impulsivos e agressivos.*

Muitas vezes colocamos esses sentimentos instáveis para fora em forma de raiva desmedida em determinadas situações. Quando internalizados, esses sentimentos causam uma implosão que pode levar à comportamentos autodestrutivos. Isso quer dizer que existem tanto borderliners explosivos como implosivos.

3. E é por isso que gostaríamos que entendessem que não é sobre chamar a atenção.

Apesar de gostarmos sim de atenção, nossos comportamentos não são apenas sobre consegui-la. Grande parte da literatura acaba pintando pessoas com o transtorno como manipuladoras e pouco confiáveis, quando a verdade pode estar muito mais embaixo. Os maiores medos de uma pessoa com o transtorno envolvem a ideia e medo extremo do abandono, e é por isso que ela faz de tudo para que alguém fique... Ou pegam a contramão, se isolando de uma pessoa e até grupos inteiros para evitar que esses medos se tornem realidade.

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4. Tudo é intenso para nós e coisas simples podem criar crises complexas.

Situações corriqueiras, como um erro no trabalho, uma nota baixa ou a rejeição em um relacionamento acabam sendo encaradas como o próprio fim do mundo, e leva a sentimentos como humilhação, vergonha e até episódios depressivos. O pensamento em preto e branco, mais um sintoma do transtorno, faz com que o meio termo não exista na maior parte do tempo. Só conseguimos encarar as coisas com sentimentos extremos: alegria e euforia ou depressão e ansiedade, amor e admiração ou ódio e raiva.

5. Logo, ter qualquer tipo de relacionamento pode se tornar difícil.

O que mora no fundo da intensidade, na verdade, é um vazio imenso e inexplicável que tentamos preencher constantemente. Qualquer carinho ou tratamento afetuoso pode virar uma paixão do mesmo modo que uma palavra dita ou interpretada da forma errada pode criar brigas que saem completamente do nosso controle. A pressão de uma relação amorosa com um border é extrema, já que toda nossa ideia de um amor lindo e perfeito recai sobre a pessoa. Por outro lado, não economizamos em amar: o borderliner ama com entrega e muita dedicação e faz de tudo para ver alguém do seu afeto feliz.

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6. O relacionamento pode ser ainda mais complicado com uma “Pessoa preferida”.

É comum que a pessoa com Transtorno de Personalidade Borderline tenha uma pessoa pela qual desenvolvem absoluta adoração e entrega, além de passar a se espelhar nessa pessoa. Ela se torna facilmente um tipo de guia, da qual acabamos absorvendo traços, gostos, etc. A percepção disso pela outra pessoa pode gerar uma carga e responsabilidade emocional muito grande e resultar no que mais temos medo: o abandono.

7. Mas com o devido tratamento, é possível estabilizar nossas relações interpessoais.

Com psicoterapia e terapia psiquiátrica é possível controlar os sintomas e lidar com questões como suicídio, automutilação, decepções e reações emocionais. Além disso o tratamento envolve o aprendizado de novas habilidades sociais que ajudam a estabilizar as relações interpessoais, e atuar no controle da raiva e da mania.

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8. Lidar com a doença não tem sido fácil, e tentar fazer isso sozinha quase fez com que eu desistisse de tudo.

Quando um afeto não me manda mais mensagem e passa a me evitar, isso não é mais o fim do mundo, mas já foi. Os anos de emoções intensas demais quase acabaram com o meu psicológico e por pouco não me levaram embora. Após uma tentativa de suicídio causada por sentimento extremo de abandono e sensação de insuficiência, precisei decidir o que fazer, já que não conseguia mais continuar lidando com as minhas próprias questões. Decidi pela terapia, mas não é só isso que tem me ajudado: ter uma rede de apoio (amigos, família e grupos de apoio, além dos próprios psicólogos e psiquiatras) que agora entende o transtorno e sabe lidar comigo também é essencial e tem me mantido bem na maioria dos dias, até mesmo nos dias em que não consigo conter minhas emoções.

9. Outra coisa que me ajudou bastante, foi manter um diário.

Escrever sobre meus sentimentos, deixar notas para mim mesma nos dias em que eu estou me sentindo bem e documentar razões para continuar vivendo, também serviram para mim como uma forma de terapia. Voltar a fazer o “recorte e colagem” da escola parece bobo, mas é uma outra coisa que coloco em meu diário e que acabou sendo uma boa solução para os dias em que tenho dificuldades de gerir minha raiva e frustração. Encontrar uma atividade que te faça bem pode ser uma boa saída para tornar os dias mais leves.

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Esse artigo não tem intenção de ser um guia para auto-diagnóstico ou uma visão profissional sobre o assunto. Se você está experimentando algum sintoma, procure ajuda, seja para amigos, para familiares, para psicólogos e psiquiatras, no posto de saúde, ou no pronto socorro para atendimento emergencial. Você também pode recorrer ao Centro de Valorização da Vida, ligando gratuitamente a qualquer dia ou hora para o 188, à Rede de Atenção Psicossocial e aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) da rede pública. Não deixe de buscar ajuda!

Agradecimentos: Ailton Bedani, Psicólogo e Psiquiatra e Diva Silva de Oliveira, Psicóloga.

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