10 dicas de especialistas para você ter uma conversa ponderada sobre racismo com parentes ou amigos

Pode ser complicado, mas há maneiras de tornar as coisas mais práticas para todos.

No momento, muitos de nós estamos tendo conversas difíceis com nossos parentes sobre o movimento Black Lives Matter, sobre o racismo e sobre a violência policial.

"Faça o que tem que ser feito"

Mas geralmente não é tão fácil assim garantir que essas conversas sejam construtivas.

O racismo não possui um botão para ligá-lo e desligá-lo. Ele está profundamente enraizado no modo como a nossa sociedade está estruturada. Todos estamos aprendendo continuamente sobre o assunto e devemos abordar essas conversas difíceis tendo isso em mente.

E para descobrir a melhor maneira de fazer isso, falamos com dois especialistas:

Araya Baker, terapeuta, educador e defensor da saúde mental.

Monnica Williams, Ph.D., psicóloga clínica e diretora do Laboratório de Disparidades Culturais e de Saúde Mental.

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Aqui temos 10 coisas nas quais você deve focar ao conversar com parentes ou amigos sobre raça, racismo e injustiça:

1. Eduque-se primeiro, para poder articular sua opinião corretamente.

Netflix / Via vimeo.com

Durante uma conversa com alguém que talvez discorde de você, pode ser complicado expressar perfeitamente sua opinião sem saber o contexto por trás daquilo. Como um ponto de partida sobre o racismo, há muitos livros, filmes e outros recursos que podem apresentar a necessária origem histórica.

Ao mesmo tempo, se você – ou sua família – ainda não conhece a história do racismo, fique sabendo que a culpa não é inteiramente sua. "A maioria das pessoas invalida a documentada história do racismo por causa de duas falhas no nosso sistema de ensino", afirmou Araya Baker.

"As escolas ensinam relatos revisionistas da história que distorcem o contexto histórico necessário", disse ele. "E as escolas também não ensinam a análise estrutural dos -ismos. Coisas como racismo, sexismo ou classismo são contextualizadas como problemas interpessoais a nível micro." Geralmente para evitar uma discussão sobre as dinâmicas de poder e sobre como as pessoas podem usar o privilégio de uma maneira nociva ou beneficiar-se do privilégio de uma maneira passiva, afirmou.

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2. Conduza o diálogo através de perguntas e da curiosidade.

Independentemente do quão emotivo (e com razão) você esteja, iniciar um diálogo com acusações ou ódio não vai levá-lo a lugar nenhum. Em vez disso, Monnica Williams sugeriu fazer perguntas e abordar a conversa como uma tentativa de compreender a perspectiva alheia.

Por exemplo, se seus pais acreditam que a violência policial é uma resposta provocada, você pode dizer: "Parece que muitas pessoas estão expressando a mesma coisa. Na sua opinião, com o que essas pessoas estão mais preocupadas?", disse Williams. "Apresente isso como uma pergunta e faça eles explicarem o porquê de pensarem do modo como pensam."

Williams recomendou tratar essas conversas como se um parente tivesse dito: "Eu acabei de ver o Elvis no mercadinho." Se sua reação for simplesmente chamá-lo de maluco, você não saberá a razão pela qual ele pensa daquele modo. Mas peça para ele falar mais sobre o tema – e talvez você chegue a alguma conclusão.

Tradução da imagem: quando nós identificarmos onde nosso privilégio influencia na opressão de outra pessoa, nós teremos a chance de promover mudanças reais. - Ijeoma Oluo"

3. Tenha alguns links, vídeos, podcasts ou estatísticas à mão.

Mesmo se você passou um tempo lendo e aprendendo ativamente sobre o racismo, pode ser fácil esquecer alguns pontos, principalmente quando a conversa vira um debate acalorado.

"Se quiser manter a conversa nos trilhos, eu recomendaria não apenas que você faça referências a dados e ferramentas de ensino – tanto estatísticas quanto histórias –, mas também mantenha esses recursos em um local de fácil acesso", disse Baker. "Você pode marcar links e publicações em redes sociais ou compilar um programa de estudos compartilhável."
Você pode começar abrindo um arquivo no Google Docs e adicionando novas coisas à medida que se depara com elas. Se tiver um determinado parente que queira convencer, tente procurar pessoas que ele admira ou respeita que já tenham condenado abertamente a violência policial.

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4. Mas não espere que esta seja uma discussão totalmente racional.

Essa conversa ficará tensa porque as emoções prevalecem sobre os fatos, disse Williams. "Sabemos, de um ponto de vista psicológico, que as emoções prevalecem, e que as pessoas encontram razões para validar seus sentimentos. Se você entrar em uma discussão acalorada apenas com fatos, não chegará a lugar nenhum."

A rota mais eficaz, segundo Williams, é descobrir o que há por trás das fortes emoções da outra pessoa. "Você vai querer estar muito calmo e abrandar qualquer possível tensão", ela afirmou. E uma parte essencial disso é demonstrando que você também está ouvindo.

5. Evite pressupor antecipadamente (e irritar-se com) as coisas que seu parente dirá.

Se você já discutiu anteriormente com parentes sobre, por exemplo, os protestos na NFL, pode ser natural sentir-se previamente indignado por já estar convencido de que eles também condenarão as atuais manifestações.

Mas essas presunções podem afetar negativamente o modo como você aborda esses debates, afirmou Baker. "Quando você entra em uma conversa já na defensiva, está mais propenso a ter uma reação exagerada."

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6. Esteja muito ciente do que a outra pessoa foi socializada para acreditar e valorizar.

Considerar o condicionamento alheio é importante e pode ajudar a contextualizar os preconceitos dos outros, afirmou Baker. "Lembrar a origem e a formação da pessoa pode evitar que você a culpe enquanto indivíduo, em vez de culpar as instituições e sistemas que a socializaram."

7. Seja humilde.

Mandel Ngan / Getty Images

O privilégio não é uma métrica evidente e nem possui origem unicamente em raça ou classe. Abordar o tópico a partir desse ângulo – e não de um modo "estou educando você" – pode fazer com que tenha mais progresso.

Geralmente, as pessoas são mais receptivas a críticas quando a pessoa que está "ensinando" demonstra humildade, disse Baker. "Para mim, isso pode ser feito explicando minha curva de aprendizagem sobre privilégios de classe e masculinos. Eu sou uma pessoa negra e gay, mas também cresci em uma família de classe média financeiramente estável e aparento ser um homem cisgênero", disse Baker. "Compartilhar isso geralmente mostra às pessoas que o meu interesse em desmantelar as estruturas de poder desiguais não é apenas uma empreitada egoísta."

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8. Não espere solucionar o racismo com uma única conversa – e saiba quando retomar o assunto depois.

Williams disse que é importante ter uma coisa em mente, principalmente se você for conversar com pessoas mais velhas. "Elas viveram durante décadas nesta sociedade – uma sociedade racista", ela disse. "Elas possuem uma certa maneira de pensar que talvez já esteja profundamente arraigada. Seria ingenuidade pensar que uma conversa as transformaria em justiceiros sociais."

Por causa disso, anteveja que suas vitórias serão graduais. "Se você conseguir transmitir uma opinião, por menor que seja, e achar que ela foi recebida – ou mesmo que a pessoa esteja apenas pensando sobre aquilo –, talvez essa seja uma boa hora para parar", afirmou Williams. "Deixe que a pessoa assimile essa nova informação antes de voltar para o segundo round."

Essa também é a opinião de Baker, que reiterou a importância de ser paciente com parentes e amigos, principalmente se eles não tiveram o mesmo tipo de exposição a ideias que confrontam suas noções. "É necessário discernimento para descobrir se eles estão sendo deliberadamente ignorantes e empenhados em não compreender você ou se estão apenas confusos e sobrecarregados com as novas informações, mas esforçando-se ao máximo."

Tradução da imagem: justiça.

9. Se sua família reagir à conversa de uma maneira que faça você se sentir ameaçado ou inseguro, saiba quando parar.

Uma coisa é ter uma conversa frustrante com um irmão sentir-se mal após um dos seus pais desligar o telefone na sua cara. Outra é se até mesmo uma contraposição moderada é vista como desrespeito ou justificativa para um comportamento abusivo, como puni-lo, expulsá-lo de casa ou xingá-lo.

Williams disse que, caso essa situação ocorra, nenhum tipo de diálogo seria seguro e que isso seria um indicativo de problemas imediatos que precisam ser abordados. Principalmente se você for um menor e depender dos seus pais ou parentes para coisas como moradia e alimentação.

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10. Por último, considere isto uma oportunidade para você, para não tolerar mais desrespeito, intolerância ou ódio.

Charlotte Gomez / BuzzFeed

"Muitas pessoas corajosas que confrontam parentes sobre problemas relacionados à opressão e privilégio acabam sendo alienadas ou intimidadas", disse Baker. "Eu insto elas a utilizarem essa coragem para dar um passo à frente: pensar que nem todas as pessoas com quem você tem parentesco sanguíneo são sua 'família.'"

Talvez este momento seja um grande catalisador em sua vida, para perceber que mesmo tendo "concordando em discordar" no passado, você não pode fazer isso agora. Infelizmente, lutar pelo que acredita pode significar distanciar-se ou cortar relações com pessoas de quem você achava que era próximo.

"Perder [conexões] pode ser um trauma difícil de superar, mas você vai sobreviver a isso", afirmou Baker. A boa notícia? "Você encontrará muitas pessoas com o mesmo tipo de pensamento em sua jornada. E elas confirmarão todas as suas verdades que os outros recusaram-se a admitir ou ouvir."

As entrevistas foram levemente editadas por questão de clareza e espaço.

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Este post foi traduzido do inglês.

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