10 coisas que uma pessoa que vive com HIV gostaria de te contar

Independente de você viver com HIV ou não.

JoÃo P. Teles

Desde que comecei a falar sobre HIV através do Projeto Boa Sorte, há quase 3 anos, tive contato com muitas pessoas que, assim como eu, vivem com esse vírus e o estigma que o acompanha.

Além de tudo que aprendi em artigos científicos, aprendi com essas pessoas que existem algumas coisas muito simples que ajudam a afastar o estigma, mas que ainda muita gente não sabe. Então fiz esta lista, com coisas que podem nos ajudar a viver num mundo com menos discriminação, mais saúde e, principalmente, muito mais felicidade!

1. Eu não tenho Aids!

Muita gente ainda não sabe a diferença entre HIV e Aids. Quando a epidemia foi percebida, na década de 80, não havia teste nem tratamento, então as pessoas realmente eram diagnosticadas já no estágio de Aids. Hoje, no entanto, uma pessoa diagnosticada cedo pode começar o tratamento para que a infecção pelo HIV (que é o “vírus da imunidade humana”) nunca avance a ponto de se tornar Aids (o estágio avançado dessa infecção, conhecido como “síndrome da imunodeficiência adquirida”).

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2. E, mesmo se fosse o caso, pessoas doentes de Aids podem se recuperar.

Sabe aquela história de “Aids não tem cura”? Vamos rever isso aí!

A infecção pelo HIV não tem cura ainda mesmo não, mas a Aids é um estágio que pode ser revertido, sim, a partir do tratamento do HIV e das coinfecções que podem aparecer em quem está no estágio avançado da infecção. Não tire a esperança dessas pessoas de se recuperarem.

Como é muito mais fácil tratar a infecção pelo HIV se não houver uma tuberculose ou pneumonia junto, fazer o diagnóstico cedo é muito importante. Ou seja, façam o exame!

3. Meu sistema imune não é mais frágil que o seu, tá?

Na verdade, é capaz de a minha saúde estar bem mais em dia que a sua, já que eu tenho um profissional de saúde que me acompanha regularmente. Quando o remédio está funcionando direitinho, ele consegue reduzir o número de vírus na minha corrente sanguínea a praticamente zero. Então, ele não impacta minha imunidade como impactaria se eu não tratasse e chegasse ao estágio de Aids!

Dá pra tomar banho de chuva, meter o pé na jaca no barzinho e até sair de casa sem o casaquinho que a mamãe pediu pra levar. Cê vai resfriar? Claro, porque praga de mãe pega mesmo! Mas o resfriado vai passar, como passaria em alguém que não tem o vírus.

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4. Ninguém tem de sofrer com um tratamento cheio de efeitos colaterais.

Hoje em dia, os remédios já evoluíram muito e é possível testar combinações diferentes para encontrarmos a que melhor se adequa à nossa rotina de forma mais confortável. Efeitos colaterais existem? Sim. Mas eles variam de acordo com o organismo e o que pode ser completamente tolerável para mim, pode ser extremamente desagradável para outra pessoa. E isso não é frescura!

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5. O papel do médico não é prescrever remédio, e sim promover uma discussão sobre saúde que contemple também a minha felicidade.

Se alguma parte do meu tratamento não está me agradando, eu sou livre para buscar alternativas e tenho o direito de ser amparado nessa busca. Médico nenhum tem direito de me obrigar a ficar com um remédio que me traz desconforto, se há outras combinações possíveis, por exemplo.

O papel do médico não é prescrever remédio, e sim promover uma discussão sobre saúde que vá além dos meus exames de sangue e contemple também a minha felicidade! Não adianta nada o remédio estar funcionando certinho contra o vírus, se ele te dá um sono lascado e dificulta de continuar seu trabalho de DJ, por exemplo.

6. Eu não vou morrer amanhã (pelo menos não por uma morte relacionada ao HIV).

Quem vive com HIV e tem acesso ao tratamento tem a mesma expectativa e qualidade de vida de alguém que não tem o vírus em seu corpo. O diagnóstico assusta e traz consigo o estigma da morte súbita que víamos nos anos de 80 e 90. Mas o tratamento evoluiu muito e fazer um diagnóstico cedo do HIV pode evitar muitas mortes.

Fazer o teste com regularidade é importantíssimo, justamente para que, caso dê positivo, a infecção seja detectada ainda cedo e facilite o tratamento. Então, se você foi diagnosticado com HIV, não precisa largar seus planos, suas viagens e, definitivamente, continue olhando para os dois lados antes de atravessar a rua!

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7. Transar comigo pode ser mais seguro do que com alguém que não sabe a própria sorologia.

É isso mesmo que você ouviu! Esquece essa história de que transar com quem vive com HIV é arriscado. Se a pessoa estiver em tratamento e estiver indetectável, a chance de ela passar o HIV para alguém é ZERO.

Isso mesmo. Em 2016 o estudo PARTNER já havia concluído que as chances eram 96% menores (o que foi suficiente para muitos cientistas defenderem que estar indetectável significava não transmitir o vírus). Mas, em 2017, um novo estudo chamado Opposites Attract comprovou que não há motivos para meias palavras. O risco é zero e ponto final!

Por outro lado, o risco em geral de se infectar com HIV transando sem preservativo com alguém que você não sabe a sorologia… Aí já é mais difícil de calcular, imagina garantir ser nulo. Por isso, se alguém te diz que vive com HIV, respire fundo e vença o estigma! Perceba que essa pessoa está confiando em você e que conhecer o estado sorológico dela ajuda vocês dois a terem uma prevenção ainda mais eficaz.

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8. Eu posso ter filhos naturalmente, se eu quiser.

O tratamento não só impede a transmissão do vírus para parceiros sexuais, como também pode impedir que o vírus seja transmitido da mãe para seu filho. Sendo assim, hoje em dia, pode ser seguro tanto conceber quanto dar à luz seu bebezinho!

É muito importante que gestantes façam não só o teste de HIV como também o de sífilis e outras infecções sexualmente transmissíveis logo no primeiro trimestre de gravidez. Isso deve fazer parte do pré-natal e ajuda a evitar complicações na gestação.

9. Eu não sou obrigado a falar pra ninguém que eu vivo com HIV.

A responsabilidade de cuidar um do outro é uma delícia, e um privilégio, mas não depende de eu contar ou não que vivo com o HIV. Eu tenho o direito de fazer isso apenas quando eu quiser.

Falar sobre o HIV, para muita gente, pode ser ainda muito doloroso. Pode fazer reviver traumas de um momento muito conturbado que é o diagnóstico. É comum as pessoas que vivem com HIV terem medo de falar sobre sua sorologia porque a gente nunca sabe se o outro é bem informado ou é um ignorante. E tudo bem ser um ignorante curioso e querer aprender, mas existem pessoas que preferem agir baseando-se em preconceitos do que em informações e a gente às vezes não quer arriscar sofrer discriminação.

O que você pode fazer sobre isso? Fale sobre o assunto! Deixe claro nos lugares que você frequenta que o HIV não é uma questão que te assusta e que você entende o quanto as coisas mudaram nos últimos 30 anos. É importante construir espaços seguros para se falar sobre isso sem preconceito!

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10. Pessoas não morrem de Aids por causa do HIV, por serem LGBTs, por serem irresponsáveis ou imorais.

O que ainda causa mais de 10.000 mortes em decorrência de Aids por ano não é a diversidade, o avanço dos direitos humanos, nem a libertação sexual. A dificuldade em impedir mortes por Aids tem a ver com acesso à saúde, especialmente para a população negra e periférica que ainda é a que mais morre por Aids no Brasil. Tem a ver com a educação sexual sendo barrada nas escolas por uma dificuldade de contemplar a diversidade sexual nos diálogos com a juventude (que vivencia essa diversidade diariamente).

Tem a ver com o preconceito que afasta tantas pessoas do sistema de saúde e do convívio social. Tem a ver com a discriminação que dita quem merece ser saudável e quem merece ser punido. A epidemia de Aids é diariamente alimentada pela ignorância e pela desinformação. E você tem aqui 10 motivos para compartilhar esse texto e ajudar a acabar com isso.

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