Tudo que você sempre quis saber sobre o DIU, mas nunca perguntou

Conversamos com especialistas para saber mais desse ilustre desconhecido. Spoiler: é proteção por um tempão.

1. O que o DIU é exatamente?

“DIU” é uma sigla para “dispositivo intrauterino”, ou seja: ele é um método anticoncepcional colocado dentro do útero, na cavidade uterina. Existem dois tipos de DIU: o de cobre e o hormonal. Os dois estão disponíveis no Brasil e têm o formato de um T com um fiozinho, como você pode ver na foto acima.

O BuzzFeed Brasil conversou com o médico ginecologista e obstetra Rogério Bonassi Machado, presidente da Sociedade de Ginecologia de São Paulo, que explicou a diferença entres os dois tipos: “O DIU de cobre não contém hormônios. Ele promove uma inflamação no útero e deixa o muco cervical com grande concentração de cobre, criando uma substância tóxica ao espermatozoide, que não consegue encontrar o óvulo. Já com o DIU hormonal, há o aumento do muco cervical, que fica mais espesso e dificulta a subida do espermatozoide.”

2. E qual é a vantagem de usar DIU?

Alexanderyershov / Getty Images

A maior delas é ser um anticoncepcional de longa duração. A versão de cobre pode durar de 5 a 10 anos. Já a hormonal dura 5 anos. Ou seja, é proteção por um tempão.

Ele também não inclui falhas de uso, como quando você esquece de tomar a pílula anticoncepcional, usa outro remédio que pode diminuir a efetividade dela ou então coloca a camisinha depois da relação já ter começado.

O BuzzFeed Brasil também falou com a médica ginecologista e obstetra Taisa Catania, especialista em parto humanizado, que explicou que o DIU de cobre também é uma alternativa para a mulher que não quer tomar hormônios: “Com o aumento do interesse das mulheres em sentir o próprio corpo, se conhecer melhor e entender seus ciclos, ele vira uma opção.”

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3. Qualquer mulher pode usar o DIU?

O DIU não é o método para você se:

- Está grávida ou acha que pode estar grávida.

- Tem alguma condição uterina em que o DIU competiria por espaço, como distorções, anomalia congênitas (como útero dividido) ou má formação uterina. Seu médico te ajuda a saber se você está nesse item.

- Teve alguma infecção pós-parto.

- Teve câncer.

- Tem algum sangramento inexplicado.

- Tem ou já teve doença inflamatória pélvica.

- Pretende engravidar em menos de 5 anos.

Além disso, adotar o DIU é uma decisão que deve partir de você. Se você tem vontade, converse com seu médico, ele vai levar em conta seu histórico clínico.

4. Será que eu deveria usar DIU?

Levando em conta o item anterior, o DIU pode ser uma boa opção se você:

- Não planeja engravidar nos próximos 5 ou 10 anos.

- Não tem uma rotina e/ou costuma esquecer o horário de tomar a pílula com frequência.

- Tem interesse ou precisa de um método anticoncepcional sem hormônios, caso do DIU de cobre.

- Tem uma dessas questões: pressão alta, trombose ou histórico de trombose na família, enxaquecas, epilepsia.

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5. Quem usa DIU não menstrua?

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Depende. “Com o DIU de cobre você menstrua normalmente. Com o DIU de hormônio você pode ficar até sem menstruar. Para mulheres que querem diminuir sangramentos, pode ser uma opção”, explica o doutor Rogério Bonassi. Mas parar de menstruar não é uma certeza: isso varia de mulher para a mulher.

6. É verdade que o DIU é o método anticoncepcional mais caro que existe?

Não necessariamente. Os preços variam e o ginecologista Rogério Bonassi explica que o dispositivo de cobre custa em média R$ 100, já a opção hormonal está entre R$ 600 e R$ 800. O valor da inserção também deve ser contabilizado.

Mas aí entram algumas questões:

Primeiro, você pode comparar na ponta do lápis quanto você gasta com seu anticoncepcional no período de duração do DIU (5 ou 10 anos).

Segundo, as duas opções de dispositivo e a inserção podem estar disponíveis na rede pública da sua cidade. E, desde 2009, uma resolução normativa da Agência Nacional de Saúde diz que o procedimento deve estar incluso na cobertura dos planos de saúde.

Ou seja: o DIU pode sair mais barato que outros métodos anticoncepcionais.

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7. Vou precisar fazer uma cirurgia para colocar? Vai doer?

Não, o DIU não é inserido com cirurgia. É um procedimento ambulatorial, feito no consultório. “Tem um certo desconforto, e isso varia de pessoa para pessoa, mas é bastante tolerável e pode ser feito sem anestesia geral”, explica o doutor Rogério. E ainda: costuma ser um procedimento rápido.

É costume sentir cólicas no primeiro dia, mas a duração varia – pode durar um pouco mais, pode não incomodar nada. Nesses casos, tome um remédio para cólicas normalmente.

Depois, você não deve mais sentir o DIU, então se estiver com dor ou algum desconforto, fale com seu médico.

8. Meu corpo pode não se adaptar e expulsar o DIU?

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Sim, isso é possível. “O DIU é um objeto estranho colocado dentro de você”, lembra a doutora Taisa Catania ao BuzzFeed Brasil, e, por isso, seu corpo pode não se adaptar a ele.

Essa é uma das principais causas da pouca adesão ao método, mas a taxa de expulsão não é alta: segundo estudos, varia entre menos de uma até 7 em cada 100 mulheres que colocam o dispositivo.

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9. Quando o DIU começa a fazer efeito?

Como em qualquer troca de anticoncepcional, é preciso de maior proteção no primeiro mês, ou seja, usar preservativo. “É super importante fazer o controle nas primeiras semanas pós implantação para observar se ele está no lugar certo, e você só vê isso pelo ultrassom. Depois do primeiro mês é vida normal, ele já tem feito”, conta a ginecologista Taisa Catania.

Daí é só fazer uma consulta anual para checar se ele está na posição correta.

10. O DIU pode me espetar? Como vou saber se ele está no lugar?

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Talvez você tenha ouvido alguma história de alguém que usava DIU, mas ele espetou o músculo ou saiu do lugar. “É muito raro, mas pode acontecer”, diz Taisa Catania. “Se você sentir alguma dor, incômodo abdominal, faça o exame para ver se o DIU está fora do lugar”, alerta a médica.

Seu ginecologista vai conferir se ele está no lugar certo no primeiro mês após a inserção e uma vez a cada ano.

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11. Eu vou sentir o DIU durante as relações sexuais?

Não, você não vai sentir nenhum incômodo: “O DIU fica na cavidade uterina e o fio dele fica no máximo 1 cm no colo do útero”, diz Taisa. Para entender melhor, observe a imagem acima.

12. O DIU pode funcionar para quem tem ovário policístico?

“Não é a primeira indicação, o melhor é tomar pílula”, diz o médico Rogério Bonassi.

Mas, como tudo quando se fala de anticoncepcionais, é uma questão caso a caso: “Se a pessoa tem alguma condição que contra indique o uso de anticoncepcional, aí o DIU de cobre pode ser uma opção se associado ao uso de medicação específica para o tratamento da síndrome de ovário policístico”, explica Taisa.

Ou seja, quem tem ovário policístico pode usar DIU, mas ele sozinho não é um tratamento.

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13. Quem nunca teve filhos pode usar o DIU?

Sim. O doutor Rogéro Bonassi explica que um dos maiores mitos que existem é que o DIU só pode ser colocado por mulheres que já engravidaram. “Por ser um método de longa duração, ele é uma opção bastante utilizada por mulheres que já tiveram filhos, mas isso não é uma condição para o uso.”

14. Qual é a possibilidade de engravidar usando DIU?

“Todo método anticoncepcional tem um índice de falha”, diz Taisa. “Mas se você faz o controle, conferindo se ele está no lugar certo, é difícil engravidar, é muito raro”, afirma.

“A camisinha, se usada corretamente, tem índice de não-gestação de 98%. Mas se você não coloca da hora certa, o índice cai. Como o DIU não depende do usuário, ele tem essa vantagem em relação aos outros métodos.”

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15. Usando o DIU eu posso deixar de usar camisinha?

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Não. Ele é um método anticoncepcional. O preservativo também evita doenças sexualmente transmissíveis, então continua sendo necessário.

16. O DIU vai afetar minha fertilidade quando eu quiser tirá-lo para tentar engravidar?

Alexanderyershov / Getty Images

Não. Doutor Rogério é taxativo: ele não afeta sua fertilidade. “Se você quiser ter filhos após tirar o DIU, tem 85% de chance de engravidar em um ano – assim como qualquer mulher que não faz uso de anticoncepcional.”

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17. Porque mais pessoas não usam DIU?

Existem teorias.

A primeira é porque colocar o DIU depende de um médico, afinal, ele é inserido dentro do seu útero. “Mesmo que todos os métodos devam ser tomados com acompanhamento médico, muita gente vai até a farmácia, compra a pílula anticoncepcional e toma por contra própria”, diz a doutora Taisa. (Amiga, não faça isso de jeito nenhum!).

Outra teoria é o fato de que é um método supostamente mais caro e mesmo assim há a possibilidade de você não se adaptar a ele (vale lembrar que isso pode acontecer com todos os outros métodos).

Você também pode não querer colocar um corpo estranho dentro de você e tudo bem.

E há vários mitos em relação ao DIU – esperamos que essa matéria tenha ajudado a desvendá-los!

Atualização: 18 de junho; 11h43.

Uma versão anterior do texto afirmava que a metformina é usada em associação ao DIU de cobre para casos de síndrome de ovário policístico. O medicamento é administrado para casos específicos de síndrome de ovário policístico.

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